sexta-feira, 6 de maio de 2011

a hora ressonante

nenhum assombro a mais nessa soma de flores
: já mastiguei todas as pétalas
em meio século de setembros.

não me incomoda mais o acúmulo da
areia nem a força inextinguível
a empurrá-la pela cintura do tempo
:
meus olhos são de vidro e projetam
a letra torta à procura de uma rima.

entretanto não desprezo o sono
a recepcionar o verso inesperado –
só atendo à urgência dos rins
e à sede que mantém esse ciclo osmótico

e enquanto a fisiologia ferve
eu me recosto no banco
a decifrar enigmas
a contar pitangas maduras
e a observar o sol se decompondo

(a noite
é a última palavra ao alcance do horizonte).

Um comentário:

João Luis Calliari Poesias disse...

Então, Sílvio..A noite tece, ela sempre tecerá.Abraço