terça-feira, 5 de abril de 2011

VÓS APLAUDIS O QUÊ?

Fotografia by Miguel Chikaoka


I - Ahí! Ahí!
― Vós aplaudis o quê?

Quanto a mim:
aplaudo o anseio de crucifixar algemas,
de derrotar cadeias, de fotografar
                      em preto e branco,
                          e depois dos 90 

               assexuar com imagens.

Ahí! Sem excitação de infinito,
tudo é concreto... espuma que embebeda...
êxtase
ao reverso!

Cá,
mofado em pencas, todo poeta goza como um cadafalso 
que apenas reinventa a corda:
o clímax da ausência.

II - E Vós? 
(Espírito! Espírito!)
Vós que emanais de si mesmo,
revela-nos a consubstancialidade das coisas:
― Quem há de conceder despudor
                        ao breve espermar?
― Quem há de ouvir o urro de si mesmo
e ainda depender da penetração?
― Quem há de manipular a razão e a emoção e
                                          e alcançar a ternura?

Cá. Bebo-me em série
e ainda renovo-me em cacho
esnobando o enigma da expiação.

III - Mundo! Oh, Mundo!
Teus homens-pedras
são larvas lastimáveis à medida que não gozam
ao final de suas bulimias...

E Vós?
(Pedra de ferir firmamento!)
Vós que aplaudis o soluço do barro, 
estancai (imediatamente) em vossas vaginas 
os corrimentos marrons dos homens sem falas.

Vós sabeis, desde sempre, 
que a prisão verbal é imerecida
e tem a virtude de debochar
a palavra que, fugitiva,
retarda a ortografia dos mortos:
a gravidez incurável que desanima 
o poema desejado.

IV - Ahí! Ahí!
― Vós aplaudis o quê?

Decerto que aplaudis veneno, fogo, asfixia,
porque sois cisco e graça e gala e órbita;
porque sois lágrima e riso e estricnina;
porque sois como a fumaça repousada na ferida
que não remenda línguas e vidros;
porque sois como o relógio para o antiquado
e como a vírgula para o contraponto;
porque sois como os olfatos desusados
e as lâminas afetivas
que brilham para os brancos sentimentos.

V - Ahí! Quando tudo parece um monte de estômagos esvaziados,
acontece sempre o surgimento do viço gordurento do bacio 
que obriga o poeta a escarrar 
o gozo virulento da manhã-manhã,
que nada pede,
ofertando-nos os oceânicos alimentos dos rebelados, 
e as escápulas de nós.

© Benny Franklin
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7 comentários:

Joe_Brazuca disse...

cada vez mais "MAIS" !

nossa...sem fôlego

aplausos !

abs

João Luis Calliari Poesias disse...

Ao escarro...Demais!

Francisco Coimbra disse...

Ao longo do tempo que vamos partilhando “nosso dia”, já con_versei... um pouco comentando teus versos: sempre poderosos! Parabéns e meu abraço.

Sidnei Olivio disse...

Repito o Mestre Francisco e lhe enevio um abraço.

kiro disse...

E seria uma cena magnifica!!!

Muito bom seria dizer só o mesmo... ♥

Gavine Rubro disse...

um grito-poema

fantástico ritmo que expressa a mensagem deste poema

Aprecio imenso a tua escrita

Parabéns.

BAR DO BARDO disse...

plasma e libido
um pouco de religião

eis

ISSO!