segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

FECHAR OS OLHOS - SYLVIA BEIRUTE

























FECHAR OS OLHOS

precisas de conhecer a insatisfação das palavras
para escreveres bem.
as subsequências têm de ser uma absorção
linguística do momento histórico.
qualquer produção
tem de mover-se como detonação de entranhas
desde o tempo passado até à arquitectura
da conversão actual.
é impossível fechares os olhos quando tudo
é cortado em metades e essas metades
procuram metades alheias e formam novos todos.
a literatura, onde quer que exista, faz deslizar
as palavras que mais não são do que documentos
contendo novas invenções do mundo,
novos pares de invenções do mundo.
e é assim onde quer que elas sejam ditas. em qualquer
situação minimamente provável.
a palavra que falta ao pensamento é livre. pode
ser dita. escrita. e viciar-se no branco polar
de uma distância verbal. e tu:
continuas a falar. e eu: não consigo ouvir-te.

Sylvia Beirute
também publicado no blogue "uma casa em beirute"
.

5 comentários:

kiro disse...

Nossa... quanta força e fineza de sentir!

Fascinante... Deveras!

Um ano repleto dessa meiga inspiração.

Com carinho,

Evandro L. Mezadri disse...

Bela poesia Sylvia, agradável de ler, e mágico de sentir.
Abraços e sucesso!

João Luis Calliari Poesias disse...

lembrei Worpswede, Rilke e as cartas

Henrique Pimenta disse...

gostei do poema

felicidades

Joe_Brazuca disse...

a receita é tão sublime, como o poema
que ensina...


perfeito !