(verde que te quero verde, verde, verde)
cães vagabundos
porcos da rua torta
anjos que não nos encaram
monstros de óbvios pesadelos
meninos de efêmera trajetória
a ciranda abraça a praça
poeira grudando nas paredes da igreja matriz
cordas esticadas das gargantas cortadas
a música regendo o passeio dos pássaros
a morte de asas púrpuras
o fardo da existência
pedras rolando
os saltimbancos em romaria medieval
cavaleiros armados de cruz e espada
combinações de astros alinhados
verdades impostas por falsos profetas
a paixão não anda de mãos dadas com o equilíbrio
a poesia de escapando ao pelotão de fuzilamento
avançando pela manhã de desencantos
antecipando sofrimentos e a falência geral dos sentidos
tortura diurna
proclamando arrependimentos tardios.
Um comentário:
Um poema duro, profundo... abrindo marcas, deixando cicatrizes a vir dos versos talhados, bem marcados. Tudo isto a propósito dum poeta mago da leveza do requebro da língua quando dança e dum dizer que se diz e fica e não passa... «verde que te quero verde». Parabéns!
Postar um comentário