sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Garcia Lorca

(verde que te quero verde, verde, verde)

cães vagabundos
porcos da rua torta
anjos que não nos encaram
monstros de óbvios pesadelos
meninos de efêmera trajetória

a ciranda abraça a praça
poeira grudando nas paredes da igreja matriz
cordas esticadas das gargantas cortadas
a música regendo o passeio dos pássaros

a morte de asas púrpuras
o fardo da existência
pedras rolando

os saltimbancos em romaria medieval
cavaleiros armados de cruz e espada
combinações de astros alinhados
verdades impostas por falsos profetas
a paixão não anda de mãos dadas com o equilíbrio

a poesia de escapando ao pelotão de fuzilamento
avançando pela manhã de desencantos
antecipando sofrimentos e a falência geral dos sentidos
tortura diurna
proclamando arrependimentos tardios.

Um comentário:

Francisco Coimbra disse...

Um poema duro, profundo... abrindo marcas, deixando cicatrizes a vir dos versos talhados, bem marcados. Tudo isto a propósito dum poeta mago da leveza do requebro da língua quando dança e dum dizer que se diz e fica e não passa... «verde que te quero verde». Parabéns!