imagem: Murat Harmanlikli
serias mais que abstração nesta linguagem de ícones
que se movem como formigas gigantescas
a carregar consigo as lembranças.
Não fosse este silêncio
regressarias de tuas viagens, mesmo com ressaca de viver
ou tédio a corroer tuas esperanças que em vão
se movem como ratos a remexer latas na despensa.
Não fosse esta loucura
estarias presente em meu cubículo a bater-me na cara,
coagindo-me a dizer mentiras que lhe agradam,
apenas para salvar-lhe da névoa que encobre teu rosto.
Não fosse este silêncio
viria possuir-me o teu espírito em noites sem lua
em tempos de mistério e sombra, simplesmente
pra fazer gracejos e brincar sobre meu corpo quente.
Não fosse esta loucura
não serias só palavras rabiscadas por mãos trêmulas
em muros carcomidos, onde a alvura da cal
não esconde os desfavores do tempo.
Não fosse este silêncio
não terias ido embora pra longe destes olhos
deixando a este louco apenas o consolo
de versos obscenos no espelho do banheiro.
Mas, terias me libertado.
Desatando os nós que nos envolvem;
quebrando este silêncio que devora
as entranhas sufocando em nós o ânimo.
Quebraria este espelho que revela
a nossos olhos as misérias
a que nos condenamos;
Romperia o cordão que injeta em nós venenos.
Abortaria, pois, este desvanecimento
que nos rouba lentamente um do outro,
tornando loucura a tudo que um dia
dissemos querer da vida.
6 comentários:
Gostei bastante, Flávio, não fosse a necessidade de corrigir "dispensa" por "despensa". Adorei os "versos obscenos no espelho do banheiro", dentre outras passagens poéticas intensas. Um abraço.
Muito bem, Vera! Agradeço o toque! Abraços!
Belíssima poesia, muito bem escrita e estruturada.
Gostei demais.
Grande abraço e sucesso!
De ponta a ponta um bravo clamor do que vivemos, estamos no meio, tivemos flores nos quintais ao invés de miséria e lixo como vemos em casas ...moradias infames ao cidadão brasileiro e muitos hoje de nós em gaiolas , apartamentos com medo de tudo...não há flores nem mais nas janelas...vivemos o lado de lá com flores e hoje elas são mortas...
Adorei!
Flávio, belo poema. Um dos muitos poemas excelentes de seu novo livro! Um abraço.
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