sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Autopoiese

.....................................escaravelho que valha a casca

..........................................carneiro com a lã já tecida

..........................cigarra rompendo as costas do ruído

.

......................................nada abate o sol que reina

............................nem aspira denso o asfalto gratuito

.

......................................mas algum florir ainda se espera

.................................a si

..............................como empilham favos os favos

..............................oitavados

...............................para serem

.................................vagos

....................................sua própria metalurgia

.

.......................................quanto é o enquanto?

.......................................quanto aguarda

.

.................................o pássaro pulmão de lata

.....................que desata a condição de guardião

...................................................................do limo?

..............................água e pedra que se fazem limo

.......................................escuras quão escuros são

.............................................do pássaro os poros

.................................em seu marrom de brilho

.

heyk, 22 e 23 de novembro de 2009, rio

10 comentários:

Carol Mioni disse...

Adorei.. a sonoridade da primeira estrofe ficou ótima!

Sylvia Beirute disse...

querido heyk, e a resposta ao meu e-mail?

um beijo
adorei o poema.

Barone disse...

Gostei!

Benny Franklin disse...

Esse (seu) poema repele a mesmice.
Abs.

Heyk disse...

obrigado, caros. tá aí uma tentativa de pesquisa. a autopoiese, a investigação prática de que os seres geram a si mesmos

tenório disse...

Achei o poema poderosíssimo, e acho que isso vem de um trabalho que percebo muito valoroso seu: você realmente busca elevar a sua poesia a um nível de 'vida ou morte'. Não entro no mérito se e quando funciona - nessa funcionou demais -, mas sim nesse seu respeito ao ofício, de querê-lo poderoso, visceral, científico, revelador.

Volto a dizer que talvez a Poesia nem seja tudo isso, sejam são só palavras, risos.

E é por isso que podem(os) te chamar de arrogante, presunço, intenso, mas uma coisa que você não é é negligente com sua meta ao fazer poesia.

Meus parabéns, Heyk.

Heyk disse...

é, entre arrogância e negligência, fico com a arrogância!
obrigado tenório, gostei de tudo que disse e é por aí mesmo que encaro o ofício: fazer saberes com este gêneros, propor nuances e pontos de fuga.

Obrigado.

gostei das suas coisas que vi.

Victor Meira disse...

Uma decepção quase conformada com o mundo, que segue por um chute de esperança - espera-se qualquer florir. "Florir" é bonito. Disso se empilham favos numa rima vaga - não é? - que culmina num jogo mais ou menos. No fim, o pássaro pulmão de lata intriga verdadeiramente - as figuras provocam charadas. A natureza dele - de poros escuros - o leva à renúncia de seu cargo. Quer valer como o escaravelho, quer romper como a cigarra, mas não por meio do voo. Jamais pelo voo. O voo é a tarefa-comum do guardião do limo. Marrom e escuro, ele o quer apenas por meio do brilho.

Joe_Brazuca disse...

Estou com a Carol, la em cima...

só que achei tudo sonóro, e muito...
significado ?...besteira !...
afinal, tudo vira catarse !

e viva a música embutida em tudo !

legal, Heyk !

K disse...

Adorei!!