terça-feira, 14 de julho de 2009

à francesa

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

(Álvaro de Campos - trecho de Tabacaria)



1

nada sei
a não ser
do seio
do nada

: nódoa
que detona
tecidos

: nódulo
no dedo [médio]
do tédio

nada
nas mamas
calejadas
da poesia

ainda encontro a cura
seja na bula
na bíblia
na cabala

uma fuga
na bala
na agulha


2

nada sou/
serei
a não ser
um sopro de
savoir-faire

: adega
- demi-sec -
do saber

: adaga
- cega -
da sabedoria

nada
na língua
flácida
da poesia

ainda acho abrigo
seja nos livros
nos discos
nos vídeos

alguma verdade
na vaidade
no vício


3

nada sei
além do que
não paira
mínima
dúvida

: tudo enfim
finda
em nada


ainda resta
uma saída


valéria tarelho

10 comentários:

Maria Cintia Thome Teixeira Pinto disse...

Somos um sopro de migalhas de estrelas..somos tudo em partes, somos tudo no que já é nada...
bela composição poética em seu tema. Perfeito. a gente se sente'
cintia thome bj

Felipe Vasconcelos disse...

Sensacional!!!

Renata de Aragão Lopes disse...

Brilhante!

Benny Franklin disse...

Divino poema!

tenório disse...

Fora de série. Fico besta, a Valéria é gênio.

Tomaz disse...

Arrebentou !

gostei muito do estilo, fez muito com poucas palavras...

Um beijão.

Felipe Costa Marques disse...

Consegui ver o "nada"
Adorei !

Tião Martins disse...

Minha vizinha num é fácil. Arrebenta a cerca, invade o quintal e ainda molha as plantas!

Ps. que diabo será que eu quis dizer com isso...

Barone disse...

Valéria, maravilhoso o poema.

BAR DO BARDO disse...

poema articuladíssimo

em talhes

e detalhes