internei-me
às próprias custas e descontados dias
no consultório da minha almargura
na porta
a placa manuscrita anuncia:
não saio nem ensaio
deixe-me sem anestesia
em dor fina
dentro
ensimesmável
__ meu corpo agora é a montanha mágica do meu tratamento __
enlouquecido
aquecido pelo esquecimento de tudo
criminoso da própria guerra
dividido pela terra
nesta vida que eu encolhi
comendo endívias e dados
endividado
mas impiamente feliz
em reza
silencioso de terços
imprecioso e indiogente
(nas manhãs visto
inospitaleira roupa
tecida com fibra de trepadeira lenhosa
que marca interna e inteiramente meu corpo
abre a fera
minha represa rompida)
inospitaleira roupa
tecida com fibra de trepadeira lenhosa
que marca interna e inteiramente meu corpo
abre a fera
minha represa rompida)
internei-me
não a procura de curas
nem a procura de remédios
nem é coisa de tédios
internei-me por ruptura
a procura de uma nova tessitura
que despaute minha rotina diária
que quebre a mediocrediária bolsa dos dias
que desopile meu rim
par e ente de todos os líquidos
internei-me para copular com o silêncio das frases
comer no útero das coisas
tocar o ovular plurivitelino dos sentidos
e sair
com todo humor de meu impuro e inexato corpo
dessa mesmíssima merda
.
.
.
belorizonte, infernando...
fernando cisco zappa
.
.
.
15 comentários:
Potente internato
E se houver cura?
Há o perigo de curar-se, lembra?
corremos esse risco
mas
nesse desenho
que é a vida
não basta correr o risco
mas
viver
e você, beatriz, sabe disso
de todo modo
no ser tão da vida
(com rosa e sem rosa)
é arriscoso.
bjos!
Um mergulho cego nos abismos da criação! ótimo poema, meu camarada!
muito bonito. e esses versos:
internei-me por ruptura
a procura de uma nova tessitura
que despaute minha rotina diária
biscoitos finos.
um poema que cura,
congratulações
"do estro às vitórias" (V.G.)
Bom, muito bom, atrevo-me a sublinhá-lo:
[...]
"internei-me para copular com o silêncio das frases"
[...]
Eu sublinho vários trechos dos teus sublimes versos!
Olha...
Uma internação dessas é necessária par todos os poetas.
Internar a alma
e sair por aí rompendo-se em palavras.
CARINHOS.
Um poema que arrebata, aniquila e encanta. Muito bom mesmo.
internar-re é hibernar no sonho,tantas vez preciso para os poetas.
Poema que cura por alguns segundos.
Adorei, Zappa!
Beijos pra ti :-)
Maravilha de poema.
Entrar em si, esquecer de si e de outros tantos
personagens que construímos para nos salvar
do lado de fora e curar feridas internas
mas ainda ficam os queloides, os relevos
a nos perturbar...cicatrizes densas nunca findas
sempre de faz tempo gostei do verbo 'desopilar'.
estiveste em uma camisa de força?
não queira.
o humor da merda bem melhor serve.
gosto da tua poesia.
Puta Q Pariu! Rimbaud, Leminski e Cummings. Isso é poesia de Fera. Abraços,
Tavinho
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