sábado, 5 de novembro de 2011

RÉQUIEM PARA MEU PAI

Fotógrafo selecionado para o 27º Salão Arte ParáO salão é um dos mais representativos do Brasil.


[Orquídea Selvagem]


I - O tempo, Pai,
esse foge [tragicamente] da vida
num saudar de lágrimas talhadas.
Céu a céu
eu tenho te caçado
e só descansarei
quando eu puder te ver
nos aposentos ilógicos onde perdura
a lógica.


II - Com esse réquien, Pai,
o que mais quero
é dar-te um beijo.
Um beijo que descreva
a pretensão de voltar a te encontrar.
Um beijo que revigore a confiança
de jamais te deslembrar.
Um beijo que ilumine
a idéia de revê-lo novamente nalgum lugar.
Um beijo que crucifique
o sono que te levou para longe:
e não tão longe que eu não possa suportar
todo esperançoso.


III - O tempo, Pai,
esse caminha [irreversivelmente] para morte
num abraçar de metáforas retalhadas.
Voo a voo
eu tenho posto diante de ti [oh, metafisicista!]
palavras com frequências bennyanas:
Musgos com edemas beatniks
e rastros reversíveis de mim
− desses que coabitam e adolescem
ao período que copulam
apenas expiações.


IV - A tua falta, Pai,
é a consumação de cada baque,
é a germinação de cada sutileza,
é o silêncio obsequioso
de cada lastro estelar,
é a valentia maquinal do orvalho
que deságua na velocidade da lágrima,
é a ejaculação, Pai,
da colheita rala;
o fugir veloz do antes-cio
que nas mãos espalmadas
fez-se um pilar do estio.

6 comentários:

Noslen ed azuos disse...

intrigante réquiem "Orquídea Selvagem'...quando as poesias se moldam em lembranças e esperanças!

muito boa!
ns

Sidnei Olivio disse...

Belissimo réquiem, na matafórica poética bennyana. Grande abraço.

luiz gustavo disse...

este é meu segredo:
elas me fazem chorar
as flores de gérberas...

BAR DO BARDO disse...

o tempo
é levado da breca
sem break

L. Rafael Nolli disse...

Benny, esse tocou fundo. Rasgando a carne.
Abraços!

Joe_Brazuca disse...

sem comentários...

(ou, qq coisa que se comente, é bem aquém...)