Quando me propus a escrever
                                [um poema
Vieram me dizer as palavras 
– que antes de escrevê-las – 
Melhor que lhes deixasse a pena
Que meu ato – sem senso e falho – 
                               [nada lhes valia
Se não sei sequer tocar em tema 
Que se lhes compensa a densidade
De fato, eis minha colcha de retalhos,
Cerzida por todos os lados
Sem frestas, espaços 
Num emaranhado disperso
De coisas, palavras, imagens
A poesia que vem, por hora, atribulada
Contém o impreciso do passo
A inequívoca pressa
                          do viajante lasso
que se perde nos desvãos da estrada
se em tudo isso me submerge as palavras
a poesia flui sensitiva como eu nunca a quis
porém, meu domínio jamais lhe serve
pois, quando penso ser eu que a faço
descubro-me ignorante crasso
arremedo a viver por um triz
palavra inaudita palavra
que nessa lavra de pedras raras
és a lâmina que me aparas
me escrevendo inteiramente
palavra interdita palavra
és larva que me sublima
subornando-me a estima
em devaneios permanentes
assim, a poesia inunda toda gente
subverte a direção do verso
buscando no interior das coisas
a palavra ciosa de significados
inscreve o poeta nas entrelinhas
                      [de formas ingentes
no peito aberto – a miragem – 
o bisturi que rasga o cerne
convergindo ao coração insano
o célere impulso que tece
                                    [a paisagem
Não executo meus propósitos:
Sozinho, o verso se derrama
E me escreve – antes mesmo
do erguer da pena
sobre a pauta branca – 
a poesia me desbanca
me rouba a cena
me encerra no ataúde
do esquecimento.
 
 

 
4 comentários:
Flávio, excelente poema!
Li, reli, não encontro uma palavra pra adjetivar essa poesia...
Ótimo trabalho poético.
Abraço
Gosteei demais
muito boom
voou seguiir sempre
mas seguii o meeu tbm
fala sobre poemas
http://lauradiversospoemas.blogspot.com/
De prima!
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