Na seção de doces, o obesinho planejava prejuízos. A mãe ameaçou privações e não deliberou nada, estava especialmente malvada no começo dessa narrativa. Porém, na seção de bebidas, obesinho ousou regalias: fanta uva, mãezinha, fanta uva me faz muito feliz! A mãe virou o rosto: de fato o menino estava constrangedoramente feliz, ninguém tem o direito de ser tão constrangedoramente feliz assim. Aquilo era uma indelicadeza, era a forma mais cruel de impor humilhações: sem sabê-las. A mulher cedeu, mais para se preservar do que por bondade ao rebento rebentando em lágrimas. E ele estourava, estrelando chiliques estrogênicos, enquanto beijava o rótulo da embalagem: muito obrigado, mãezinha, fanta uva me faz muito feliz! A genitora então recuou, abriu a bolsa, mirou o celular fosse um fuzil, pediu: você conseguiria repetir essa sua cena? Conseguiu, e ainda com novos matizes de jactância e arrebatamento. Antes que continuassem, o bacon saltitante ainda foi capaz de cutucar a irmã, que só agora entra na estória, acomodada entre pacotes de macarrão: oi sua chata, tudo bem? A menina só entendia de sujar a fralda, mas o porpeta não se importou com isso: só lhe bastava mesmo ser superior a alguém, divulgando sua alegria. Afinal, por não matar a sede (isso fará o refrigerante), qual outra serventia terá esse tolo sentimento? A mãe se deu por satisfeita com o vídeo que fez, e continuou atravessando o carrinho de compras pelas avenidas do supermercado. Usaria aquelas imagens no futuro, talvez em uma exibição pública, quando o menino pudesse compreender o quanto fora ridícula e despropositada aquela felicidade.
4 comentários:
Grandes prazeres diria kkkk
Muito legal o texto!
Tenório, adoro seus textos. beijo
Hahaha, vinganças maternas!
Ahhh! Será o preço por se "planejar prejuízos" contra a própria mãe? Tenório, belo texto, bem escrito, com palavras selecionadas a dedo - e com um toque de humor.
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