sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A Morte

A morte não tem avenidas iluminadas
não tem caixas de som atordoantes
tráfego engarrafado
não tem praias
não tem bundas
não tem telefonemas que não vêm nunca


a morte
não tem culpas
nem remorsos
nem perdas
não tem
lembranças doídas de mortos
nem festas de aniversário


a morte
não tem falta de sentido
não tem vontade de morrer
não tem desejos
aflições
o vazio vazio da vida


a morte não tem falta de nada
não tem nada
é nada
a paz do nada




Ferreira Gullar



4 comentários:

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Hummm ohhh coisa díficil!

Barone disse...

Deslumbrante.

Isaias de Faria disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Isaias de Faria disse...

a morte. é raro eu ler sobre ela que me agrade. esse me fez ter vontade de reler, e tresler.