1.
não há receita para poesia
não há caldeirão de alquimia
nem exóticos ingredientes
poesia se faz com fome e dentes
poesia se faz com sede, frente
ao poço permanentemente abandonado
2.
fazer poesia é ter o sentido
e se apoderar da hora
a hora do cultivo
é ter a destreza da colheita
o cacho maduro que se apanha
sem romper o pecíolo
fazer poesia é precisar a maturidade
é buscar no buquê
o ante-sabor do vinho
extraindo a verdade
3.
poesia se extrai da pedra
como princípio, fundamento
e regra
como quem atira primeiro
em direção à janela
e a quebra
4.
poesia se constrói de penas
como quem em ícara cena
alça voo com as palavras
em direção ao nada:
a liberdade mágica e plena
de gaiolas sem grades
5.
poesia se extrai da grama
numa gama de adjacências
terra, água, raízes, excrementos
(há que se manter atento
à todos os elementos
e se encher de gana
a cada grama acumulada
do anti-experimento)
6.
poesia se constrói como teia
cheia de enlaces, nuances
e nós enfáticos
tênue e rígida fibra
cobrindo espaços
(construir é conviver
e saber pacientar-se
e surpreender-se
com as palavras presas
que em vão se debatem
certas do envolvimento)
7.
poesia se extrai
à beira do nonsense
livre de técnicas
receitas fáceis
paixões telúricas
poesia como utopia
inimiga de moinhos
poesia que não ignora
o exercício de hora a hora
e que se míngua
na metalíngua
quando a emoção escapa
pela tinta da mão
(poesia como esta agora
que não se prende
nem se aprende
e se defende de ser tão senão)
5 comentários:
Interessante... muito interessante essas maneiras de se perder. Adoro me perder em poesias!
Poema firme, Olivio!
Boa!
a composição do poema é um achado!
destaco o nº 6, como o glacê do bolo [minha parte predileta :)]
bj, olívio da olaria
Boa sidnei, deu um perdido na poesia e achou uma bela trama.
Bem mais que um senão, Sidnei!
Versos irretocáveis!
Um abraço,
Doce de Lira
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