quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Le Jardin / Entrelinhas

- Fiz uma poesia em francês. Ó: le jardin d'argent.

- Só isso?

***

aos leitores de Cortázar
(dedicar ao morto é uma puta bobeira)

Certeza: quando fecho o livro, o Clube se espalha pelo quarto escuro, destampa o vinho, a pinga e a vodka. Hoje jamais escutariam Fats Waller ou Art Tatum, e definitivamente estariam enjoados das gravações ruidosas do Jerry Roll. Hoje tentam se decidir entre Philip Glass e gravações mais tardias do Duke (como Money Jungle, que é mesmo um tezão). Mas como vão falar de mim, optam qualquer coisa mais fresquinha, como o trio de Esbjörn Svensson (e Tortoise na sequência). Riem, todos, de umas tentativas minhas, ou do modo com que me relaciono com eles. Leem, do lado de cá, a minha narrativa, e se divertem com paralelos, achando muito fácil discriminar as personagens correspondentes. Às vezes ficam meio enjoados, entretanto, com qualquer estabilidade - e eu acabo assentindo (Morelli é generoso). É muito por aí. Só as linhas estão mortas. Todo mundo ali mora nas entrelinhas.

Gosto de pensar que moro (que sou eu quem te lê, leitor) nas entrelinhas.

6 comentários:

Renata de Aragão Lopes disse...

É nas entrelinhas
que estão os sobressaltos.

Um abraço,
Doce de Lira

Márcia de Albuquerque Alves disse...

amo os segredos escritos nas entrelinhas!

Francisco Coimbra disse...

Eu gosto de ler um texto como se o mesmo fosse um testo que, levantando-o, permite aceder ao aroma, chegar à inspiração! Informação para ler "o Clube" que se espalha no quarto, o Clube dos Poetas Vivos?... Elementos dum Clube de Jazz, a música assume o texto, entra nele, continua-o... "Só as linhas estão mortas", os poetas estão vivos, os músicos tocam, Morelli é personagem dum conto fantástico

Lírica disse...

Gostei do ensaio de francês! hehehehe.
Ah, que sonho... poder interagir com os grandes pensadores e almas iluminadas pelo talento musical ou poético... mesmo com trilhas estranhas a eles. Aliás, oferecer-lhes os temas atuais seria um bom modo de retribuir-lhes a visita!
Sensacional.

Adriana Godoy disse...

Victor, gostei de verdade. Daslinhas e entrelinhas. Beijo

L. Rafael Nolli disse...

Victor, é um texto bom, denso, interessante. Gosto dessa sua trama, - esse, em especial metalinguístico -, em linguagem fluente. Vi que você alterou algumas coisas nesse texto, está um pouco diferente da primeira vez que foi postado. É interessante ver o processo de feitura, de criação, de retoques. Muito bom.