sexta-feira, 23 de julho de 2010

A parede, além de ouvidos



Insaciável a parede.
Tão logo pintada,
novamente se enche
de sede.
A perder-se,
quase chega
a coitada:
trinca
e infla,
de si infiltrada.

E, recostada à cabeceira,
como se ainda
à beira de um sonho,
com a tinta
eu me ponho
intrigada,
a indagar:
_ A que assistiu
cada camada?
Pois se logo
se consumiu a parede,
não há de ter sido
por nada.


Renata de Aragão Lopes


Durante leituras de Manoel de Barros.
Poema publicado em 8 de julho no doce de lira.

8 comentários:

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Lindo.
bjs

TON disse...

Renata, como no fado "...nem as paredes confesso..." cada camada é um segredo não dito.

Bela pintura em palavras.

tenório disse...

Muitíssimo bom!

Hercília Fernandes disse...

Cada camada de parede contém mistérios que inquietam, Renata, assim como os seus versos: eles nos fazem percorrer labirintos, desbravar (des)caminhos.

Belo poema, minha querida!

Beijos com carinho,
H.F.

L. Rafael Nolli disse...

É um belo poema, com certeza!

Renata de Aragão Lopes disse...

Obrigada, queridos!

Benny Franklin disse...

Renata, gostei.

Maurélio disse...

Magnífico poema, uma pintura com mãos de fada.
Abraços poetisa Renata