quarta-feira, 14 de julho de 2010

há sombra


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alvoreço
anoiteço
"zumbizo"
:
nenhuma surpresa
me pega
de improviso

nenhum palpite
atinge o poente
no hiato da noite
nenhuma ponte

inexiste horizonte
plano crástino
destino sísmico

não há
mísero efeito
mínima causa
o menor movimento

no ar
[noir]
nenhum porvir
excêntrico

nenhum mistério
me leva a sério
[affonso]
a ponto de aprontar
assombros


valéria tarelho
(à sombra dos Assombros de Affonso Romano de Sant'Anna )


Assombros

Affonso Romano de Sant'Anna


Às vezes, pequenos grandes terremotos
ocorrem do lado esquerdo do meu peito.

Fora, não se dão conta os desatentos.

Entre a aorta e a omoplata rolam
alquebrados sentimentos.

Entre as vértebras e as costelas
há vários esmagamentos.

Os mais íntimos
já me viram remexendo escombros.
Em mim há algo imóvel e soterrado
em permanente assombro.

5 comentários:

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Em meu peito se escondem muitos assombros, que vez por outra remexem minhas lembranças.

Muito lindo,
bjs

Tenório disse...

Os dois poemas geniais. E destaco:

nenhum palpite
atinge o poente

no hiato da noite
nenhuma ponte

e

nenhum mistério
me leva a sério

Brilhante!

Renata de Aragão Lopes disse...

Val,
eu sempre te aplaudo!

Um beijo,
Doce de Lira

L. Rafael Nolli disse...

Só me resta aplaudir! Já disse por aqui em outras ocasiões que acho muito interessante esses diálogos entre poemas, porém difíceis de se fazer - você o fez muito, muito bem! Muito bom, Valéria!

Andreia Hernandes disse...

Gostei muito do texto!
Parabéns!

Andreia.