domingo, 20 de junho de 2010

São Pedro da Serra

o enterro descia a rua
um homem carregava uma coroa de flores:
...Saudades: esposa, filhos e netos...

a chuva não incomodava o morto
as colinas não vigiavam o cortejo
ocupavam - se com o flerte frenético das nuvens

os carros parados na contramão
a vida seguia indiferente sem se importar com
o morto

os homens bebiam no bar
as mulheres arrumavam as vitrines
os meninos jogavam bola

o morto
não interrompia o curso das horas
não percebia - se nenhuma diferença no vento
ou na correnteza das águas pelas pedras

o morto era o único ausente
ninguém compartilhava da absoluta solidão que sentia.

4 comentários:

TON disse...

Cinematográficos versos. Imagem pura.
Cada palavra é um fotograma (putz! sou da época disso.)

Parabéns!

Barone disse...

Olá Flavio. Gostei muito do poema.

Barone disse...

Foi meu poema da semana no blog.

Maria Cintia Thome Teixeira Pinto disse...

Lindo...maravilhoso poema...belissimo
adoro teu jeito de pensar e de teus versos aqui...lindo. ab