segunda-feira, 3 de maio de 2010

a estrada para morrer sozinho

na estrada para morrer sozinho
quase nunca chove
neva às vezes
o vento pode falar em línguas
e se acharmos a freqüência certa
podemos ouvir os deuses mortos
cantando pontos e louvores

a estrada para morrer sozinho
exige que suas mãos gostem do ar
do vácuo e do vazio
construída em terras devolutas
e pavimentada com as almas
das meninas dos olhos de tanta gente
deixe seus olhos em um altar vago
para repousar

a estrada para morrer sozinho
não é playground ou tem parquinho
crianças que morrem sozinhas
nossa senhora vem buscar em uma barquinha
vão pelo mar
muito pouco a reviver e se penitenciar
depois voltam e viram adultos
para também jornadearem
serem andarilhas
no vale de lagrimas que é
a estrada para morrer sozinho

a estrada para morrer sozinho
é a mais bela
e a menos solitária de todas
flores sem perfume cercam meu rumo
me sinto de toda parte
Colombo de tantas Américas

à medida que avanço
desaparecem as encruzilhadas
para que até Hamlet viaje tranqüilo
na promessa da volta de Ofélia
não tenho lembrança de quantas vezes
passei aqui
e no meu mapa
Damasco e a estrada dos tijolos amarelos
são vias secundárias
da estrada para morrer sozinho

5 comentários:

Adriana Riess Karnal disse...

Ademir,matando a saudades da sua poesia...

Sidnei Olivio disse...

Beleza de poema. Lírico na medida certa, histórico sem pretensão. Gostei muito Audemir. Abraço.

Adriana Godoy disse...

Muito lindo esse poema..Parabéns. Beijo.

Barone disse...

Belíssimo meu velho!!

Maria Cintia Thome Teixeira Pinto disse...

Isso é poema de manchar a vista, lacrimejo aqui...aos seus tijolos amarelos...
Ímpar!!!!
ab