na estrada para morrer sozinho
quase nunca chove
neva às vezes
o vento pode falar em línguas
e se acharmos a freqüência certa
podemos ouvir os deuses mortos
cantando pontos e louvores
a estrada para morrer sozinho
exige que suas mãos gostem do ar
do vácuo e do vazio
construída em terras devolutas
e pavimentada com as almas
das meninas dos olhos de tanta gente
deixe seus olhos em um altar vago
para repousar
a estrada para morrer sozinho
não é playground ou tem parquinho
crianças que morrem sozinhas
nossa senhora vem buscar em uma barquinha
vão pelo mar
muito pouco a reviver e se penitenciar
depois voltam e viram adultos
para também jornadearem
serem andarilhas
no vale de lagrimas que é
a estrada para morrer sozinho
a estrada para morrer sozinho
é a mais bela
e a menos solitária de todas
flores sem perfume cercam meu rumo
me sinto de toda parte
Colombo de tantas Américas
à medida que avanço
desaparecem as encruzilhadas
para que até Hamlet viaje tranqüilo
na promessa da volta de Ofélia
não tenho lembrança de quantas vezes
passei aqui
e no meu mapa
Damasco e a estrada dos tijolos amarelos
são vias secundárias
da estrada para morrer sozinho
5 comentários:
Ademir,matando a saudades da sua poesia...
Beleza de poema. Lírico na medida certa, histórico sem pretensão. Gostei muito Audemir. Abraço.
Muito lindo esse poema..Parabéns. Beijo.
Belíssimo meu velho!!
Isso é poema de manchar a vista, lacrimejo aqui...aos seus tijolos amarelos...
Ímpar!!!!
ab
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