terça-feira, 23 de março de 2010

Soluço



Desci ao porão
pra rever
monstros antigos
- mas fui em vão.

Descobri
que se tornaram
meus amigos
- logo, somem na escuridão.

De companhia,
restaram-me
vinhos
- a uns poucos degraus do chão.

Embriaguei-me
de apatia
aos golinhos
- subsolo da solidão.


Renata de Aragão Lopes


Poema escrito para esta imagem,
publicado em 12 de março no doce de lira.

17 comentários:

VERA PINHEIRO disse...

Nooooossssaaaa! Que tudo de bom,Renata! Beijos de parabéns!

Francisco de Sousa Vieira Filho disse...

Poucos ousam... poucos ousam descer ao fundo... ao fundo do poço... e só a ousadia permite encontrar o tesouro:

O SEGREDO DO ABISMO

Num furor de mil ondas hei cismado
E pelas vagas seguirei inconformado,
Negando-me até o menor linimento,
Se me oculta o rumo, o firmamento.

Se é amando que se aprende a amar,
Tão certo quanto a amplidão do mar,
Se é vivendo que se aprende a viver,
Que por certo é imprescindível crer.

Contra toda a imprecação e truísmo
Preciso se faz beirar o tredo abismo
E saber menos dista o distante cume
De um tal lugar, sem qualquer lume

E se um triste evento nos faça quedar
Num tal buraco que não tenha fundo
Que se saiba ser inútil se desesperar
Que isto não é nunca o fim do mundo

Francisco de Sousa Vieira Filho


FONTE: VIEIRA FILHO, Francisco de Sousa. Lira Antiga Bardo Triste. Teresina - PI: Gráfica e Editoria O Dia, 2009. v. 500. p.11.

http://seth-hades.blogspot.com/2010/02/o-s-egredo-do-bismo-num-furor-de-mil.html

L. Rafael Nolli disse...

Renata, belo poema. Tem uma mágica especial, dando asas a imaginação do leitor! Como sempre, muito bom.

Ianê Mello disse...

Belíssimo poema!

É preciso coragem para percorrer os caminhos que nos levam ao interior de nós mesmos.

bjs.

Anônimo disse...

Bom revê-lo! Sempre bom ler vc.

Beijo!

Lírica disse...

Soberbo. Da busca à apatia. Do medo à negação. Do abrir o porão à etílica anestesia.
Parabéns pela elegância poética.

Leo Curcino disse...

muito bom! parabéns!

Day disse...

lindo. Parabéns!

Paula Vasconcelos disse...

Lindo o poema...impressionante como os monstros, com o tempo, tornam-se amigáveis.

Parabéns!

Ana.

Joe_Brazuca disse...

Simplesmente perfeita !

(gostaria de ter escrito...mesmo !)

abs

Audemir Leuzinger disse...

Lindo demais, moça!!!
E é sempre bom irmos aos lugares que nos assustam. depois da visita, parecerão menos escuros e sombrios.
Beijos

TON disse...

Envolvente e macio, como os bons vinhos. Saboroso!

Renata de Aragão Lopes disse...

Visitar o porão
é, por vezes, necessário.

Um grande abraço a todos
e muito grata pelos comentários!

Pedro Xudre disse...

Ótima poesia, muito bem escrita e como é doso o resultado de nostalgia que ela nos passa.

Verdadeiramente os monstros de ontem são nossos menores medos dos dias de hoje.

Continue assim, sempre, seja entre monstros ou amigos.

Barone disse...

Muito bom!

Barone disse...

Foi meu poema da semana no blog.

Renata de Aragão Lopes disse...

Pedro Xudré,
muito obrigada pelos elogios!

Barone,
quanto prestígio!
Pela segunda vez,
tenho um poema
em seu blog! : )

Beijos.