domingo, 14 de fevereiro de 2010

pelo dia internacional do amor


imagem via flickr


te amo (acho)


eu te amo
torto
errado
do avesso
te amo acelerado
a mais de cem
na contramão
amo-te
porque és contravenção

eu te amo
do meu jeito imperfeito
: te amo sim
te amo não
te amo sei lá como
e por que não?

eu te amo
por vício
ócio
tédio
tentação
e te amo por preguiça
porque não tem remédio
e o perigo me atiça

eu te amo
por tabela
pelas beiras
nas quebradas
ribanceiras
juro que te amo
por puro ataque de bobeira
e por qualquer bagatela

eu te amo
anti-horário
em outro fuso
fora de orbe
te amo desnorteada
sem rumo
entregue à sorte
de amar-te fora do prumo
(devolve o Norte
da minha bússola!)

eu te amo
vassala
gueixa
escrava
te amo sem queixas
sem mágoas
sem receber minha paga
em amor
(quer saber? eu te amo mesmo
é prestando um favor!)

eu te amo
no outono, os ramos secos
no inverno, o gelo
na primavera, os espinhos
no verão...
ah! no verão não te amo não
: você é liquefato
e te amo pedra no meu sapato

eu te amo
másculo
rato
inseto
te amo só de longe
(que, de perto, sinto asco)
te amo, também, porque não presto

eu te amo
fração ordinária
te amo logaritmo
(só porque o nome é feio)
eu meio que te amo
porque inteiro, é excesso
e você escassa
por isso te amo a falta
o pouco
o naco de nada

eu te amo
por um ano a fio
(que a vida toda é um saco)
te amo parco
(que muito, é porre)
eu te amo como quem morre
de infarto

eu te amo
fora dos trilhos
dos eixos
de tudo que se encaixa
e se completa
e te amo aos solavancos
: soluços são estribilho
no meu poema manco

eu te amo
emralhabado
sopa de letras insossa
palavras cruzadas
sem banco de respostas
te amo assim
: destemperado
complicado e tosco

eu te amo
muito mal e sem igual
de um jeito diferente
: sem cor, ação, som
e te amo mais
quando você mente, coração

eu te amo
andarilho
maltrapilho
esfarrapado
(convenhamos, você é lindo engravatado
: fora do meu padrão)

eu te amo
como uma frase feita
um dilema
um estratagema
: digo que te amo
como quem não ama
e amando, não amando
vou à luta armada
deixando-te na dúvida

eu te amo
o modo inacabado
impaciente
debochado
amo quando calas o que sentes
amo, ainda, quando engulo
orgulho e grito

eu te amo
ou finjo
invento
inverto os fatos?
(há tanto tempo minto
que nem seino que acredito)

resumindo
: eu te amo
(se não me engano)
e duvido que outra tonta
te ame tanto


valéria tarelho
jan/04

10 comentários:

Isaias de Faria disse...

muito bom poema

Álvaro Andrade disse...

POEMÃO.

Susanna disse...

Para amar basta ser livre! E este poema traz na linguagem fluida este convite de liberdade. Muito lindo! Bjs!

SUSANA disse...

Disse tudo! Muito lindo esse poema!!!

Tiago Tenório disse...

Já conhecia e já dizia: obra prima!

parabéns mestra!

Maria Cintia Thome Teixeira Pinto disse...

Que lindo, que lindo
Poema doce, terno
a verdade de amar...

parabens ab

FC disse...

As revelações, quando repetidas, passam a reflexões :)) Gostei muito!

Anônimo disse...

vin, vi, li, re-li, me perdi.

pura arte, sublime.

Valeria, simplesmente `The Best`

Viral.

Danielle Antunes disse...

Um dos mais belos que já li sobre amor, e simplesmente como se ama...se amor for!

Flá Perez (BláBlá) disse...

muito legal!