quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Se os poetas fossem menos bestas


Se os poetas fossem menos bestas
E se fossem menos perigosos
Fariam todo mundo feliz
Para poderem tratar em paz
De seus sofrimentos literários
Levantariam casas douradas
Cercadas por enormes jardins
E árvores cheias de colibris
De rustiflautas e de aqualises
De pardongros e luziverdes
De plumuchas e de picapratos
E de pequenos corvos vermelhos
Que soubessem tirar nossa sorte
Haveria grandes chafarizes
Jorrando luzes de mil matizes
Não faltariam duzentos peixes
Do crocantusco ao empedraqueixo
Do trilibelo ao falamumula
Da suazmina ao rara quirila
E do guardavela ao canifeixe
Provaríamos um ar fresquíssimo
Perfumado pelo odor das folhas
Comeríamos quando quiséssemos
E trabalharíamos sem pressa
A arquitetar escadarias
De formas nunca dantes sonhadas
Com tábuas raiadas de lilás
Lisas como só ela sob os dedos
Mas os poetas são muito bestas
Para começar, eles escrevem
Ao invés de por a mão na massa
Isso lhes traz profundos remorsos
Que levam consigo até a morte
Radiantes por sofrerem tanto
O mundo os aclama com requinte
E os esquece no dia seguinte
Se a preguiça não fosse mania
Teriam fama por mais um dia.


Boris Vian

tradução: Ruy Proença

4 comentários:

Daniel Braga disse...

Lindo!

Tião Martins disse...

Sim, muita bestice e pouca besteira os males dos poetas são.

Feliz 2010 pra todos os colegas do Poemadia!

Casa RaSena disse...

que 2010 seja felicidade, alegrias e sucesso em sua vida.
bjkinhas com carinhos,

BAR DO BARDO disse...

Excelente exemplar de Poesia. Adorei a escolha! Parabéns!