sexta-feira, 20 de novembro de 2009

tempo

os jornais recolhidos
empilhados na calçada
da João Ribeiro

meu avô em cochichos abreviados
o ar grave dos segredos
do meu canto
a curiosidade dos sete anos

os homens fardados
recolhendo as pilhas abatidas
páginas em branco
dias amarelos
céus de chumbo

o que diziam?
o que queriam?

presidente morto
presidente imposto

os dias sem aula
os passeios pela estação abandonada
os campos tomados
a estrada destruída

as lembranças inventadas
impenetráveis previsões zodiacais
acima de tudo
apesar de todos
amanhã será muito melhor

os dias de maracanã
míticas partidas
as praias limpas da Ilha do governador
as férias em Campo Grande
entre filósofos e peter pan

heróis apagados
gibis queimados
quadrinhos eróticos

os dias de neblina e chuva
o luto pela morte da bisavó
a herança das cartas de alforria
arroz colorido no hotel de Valença
a procura pelas brechas do tempo
por algo que não se perdeu
o tempo impostor de destinos

agora a mão vacila nas ondulações da estrada
não permitindo o poema em linha reta.

3 comentários:

Joe_Brazuca disse...

os tempos se cruzam e se confundem
essa sua história me lembrou a minha...
a elipse é inexorável...mesmo que o pulso, não mais firme, delínea os reconditos...

excelente, poeta !

Barone disse...

Muito bom Flávio.

Vários Um disse...

Ótmio!