os jornais recolhidos
empilhados na calçada
da João Ribeiro
meu avô em cochichos abreviados
o ar grave dos segredos
do meu canto
a curiosidade dos sete anos
os homens fardados
recolhendo as pilhas abatidas
páginas em branco
dias amarelos
céus de chumbo
o que diziam?
o que queriam?
presidente morto
presidente imposto
os dias sem aula
os passeios pela estação abandonada
os campos tomados
a estrada destruída
as lembranças inventadas
impenetráveis previsões zodiacais
acima de tudo
apesar de todos
amanhã será muito melhor
os dias de maracanã
míticas partidas
as praias limpas da Ilha do governador
as férias em Campo Grande
entre filósofos e peter pan
heróis apagados
gibis queimados
quadrinhos eróticos
os dias de neblina e chuva
o luto pela morte da bisavó
a herança das cartas de alforria
arroz colorido no hotel de Valença
a procura pelas brechas do tempo
por algo que não se perdeu
o tempo impostor de destinos
agora a mão vacila nas ondulações da estrada
não permitindo o poema em linha reta.
3 comentários:
os tempos se cruzam e se confundem
essa sua história me lembrou a minha...
a elipse é inexorável...mesmo que o pulso, não mais firme, delínea os reconditos...
excelente, poeta !
Muito bom Flávio.
Ótmio!
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