segunda-feira, 16 de novembro de 2009

MÃO-DE-OBRA


O que se conversa na rua,

nas esquinas da vida?

O que se passa na cabeça dessa gente

de alma ferida?

Covarde coragem, na luta sozinho.

Se falam de sonhos, reais ilusões.

Brilho escuro, de estrelas tristonhas.

Se cantam na noite tristes canções.

A voz que se ouve, um grito de dó.

A mão que se abre, de frio incessante.

Bate-se na porta aberta, de uma escada sem degraus,

dos quartéis, de uma paz alarmante.

O peso de um nada nas costas.

Os pés descalços a andar em pedras.

A cabeça encoberta nas nuvens de chuva,

o cego que se guia nas trevas.

Aumenta a ponte das ilhas que se veem.

Nas águas paradas, um bote dourado.

Se leva por baixo, em cima de todos.

O braço é forte, mas o laço apertado.

1978

4 comentários:

Renata de Aragão Lopes disse...

Que bacana, Ton!
"Mão-de-obra", de 1978.

"O que se conversa na rua,
nas esquinas da vida"
não mudou tanto
de lá pra cá...

Bonito texto.
Um abraço.

Adriana Godoy disse...

Mão-de-obra, uminteressante poema. Gostei. Bj

Sidnei Olivio disse...

Bem musical, Ton, um tema muito bem retratado. Quem "viveu" essa época se identifica. Abraços.

TON disse...

Amigos, obrigado pelos comentários.

Com um olhar mais atento ao que acontece na AL, percebe-se um movimento bem parecido com o vivido nos anos 60/70. Com a desculpa de lutar contra o comunismo, os golpes patrocinados pela extrema direita assolaram todo o continente. Agora, com a desculpa de lutar contra o neoliberalismo, o capitalismo e o imperialismo, mais uma vez um bando de filhos da puta vem nos salvar. Só que agora da outra extrema, que se diz de esquerda. Mais do mesmo.