estudo para aquarela/ rafael godoy
a chuva veio e não fechei as janelas
as ruas estão alagadas e as pessoas cinzas
há alguns guarda-chuvas esquecidos
ninguém procura por eles
a água entrou e molhou meu livro de cabeceira
as páginas ficaram enrugadas
como o rosto da velha que toma chá
com os retratos amarelados em sua sala
a chuva molhou um guardanapo de papel
em que tinha escrito um poema
sobre o dia em que você se foi
olhei a chuva entrando e não fechei as janelas
deixei que ela molhasse meu rosto e meus cabelos
os guarda-chuvas ali esquecidos
e os panos de chão pendurados no varal
25 comentários:
Quando há chuva, a gente se entrega, e deixa que ela cuide do resto. Muito bonito, Adriana. Beijos!
Achei o poema mais suave que o de costume, Adriana.
Acostumei-me a levar "trancos" lendo teus textos...
Isso não quer dizer, no entanto, que eu não tenha gostado: gostei muito!
Bjo grande, querida.
:)
Concordo com Talita sobre a suavidade desse seu poema. Ler você é sempre uma novidade, um 'outro algo inesperado por vir'. E isso é muito legal. E o mais interessante é que, suave ou não, visualizo cada cena de cada palavra que escreve. E às vezes choro e às vezes rio, rio. (Como no poema anterior, o "sem noção"). E fico feliz por ter tido a felicidade de encontrar você e suas palavras, que me fazem acender a vontade de nunca mais parar de escrever.
Sobre esse seu poema, lindo demais.
O guarda-chuva esquecido, a saída sem proteção da água que vem de cima, e os panos estendidos, resquícios da limpeza da água que está abaixo de nossos pés (e que lava tudo, leva tudo embora); e os panos estendidos, prontos pra começar tudo de novo, em outras futuras histórias nossas.
Me lembrou a música que Elis (en)canta: "As aparências enganam, aos que gelam, aos que inflamam, pq o fogo e o gelo, se irmanam no outono das paixões."
Tudo de novo e de novo, sempre, não é?
beijo grande,
Cynthia
Gostei, gostei muito, Adriana. Suavidade da chuva lavando a alma, entrega amorosa - nem que seja à solidão... Mas há um ar, uma água - de libertação, de purificação no teu poema. Poesia encharcada - coisa necessária.
Beijo.
Grande poema. Abraços.
oi,adriana! a maioria já vivenciou essa chuva...que molha o que não devia!...que pode nos fazer chorar...pelo livro rasurado
...pelo poema perdido.
mas,também,encarar como "benção"
molhar rosto e cabelos .
lindo poema ...linda chuva!
bjos
taniamriza
Muito bom poema, Adriana e também a aquarela do Rafael.
Beijos
De minha parte eu não achei mais suave que o habitual. Achei esse belo poema no mesmo ritmo de sempre - forte, trata de modo contundente a perda, a desilusão, sem concessão para o piegas. Muito bom.
(sobre a parceria com Rafael Godoy: excelente!)
adorei!!!
Chuva. Lava. Isso...
Chove lá fora e aqui, faz tanto frio ...
Palavras húmidas, versos molhados e lembranças encharcadas.
Empatia.
Ton
A chuva pode dissolver papéis, mas a poesia é imperecível!
Fortíssimo, isso sim.
Que blog bacana... uma bela reunião de grandes poetas da modernidade.
Como amante da poesia, baterei meu ponto por aqui sempre!
beijo pra quem é de beijo.
abraço pra quem é de abraço!
O que posso dizer a cada um de vocês é que fico envaidecida com esses comentários. Agradeço a todos que passaram poer aqui e deixaram essas palvras tão expressivas, o que dá força pra continuar. Beijos.
Triste.
Beijo
Muito bonito o poema Adriana, construção bem expressiva e rica, num tom saudosista e reflexivo. O desenho do Rafael é belo e ilustra bem o texto poético. Obrigada por seu carinho sempre presente. Bj.
Eu fico deslumbrado com as pinturas do Rafael. Caramba, que coisa.
E tá lindo, a sinergia com o poema é boa.
O poema é suave, de melancolia já domada. É agradavel e tristezinho. Lembro da minha mãe lá no interior.
Beijo.
imagético e forte (tão forte que dói "como o rosto da velha que toma chá/
com os retratos amarelados em sua sala").
grande texto, adri!
Belíssimo, Godoy.
Poema paisagístico de primeira grandeza, desses que a gente quer habitar.
Lindo mesmo!
Um beijo :)
H.F.
Olá minha cara!
... e fizeste bem, a chuva, qdio cai assim e é tao bem recebida, costuma lavar a alma e deixar correr enxurrada abaixo, aquelas coisas que estao grudadas e nao conseguimos nos livrar...
grande poema!!
parabéns a ti.
lavou alma, dri.
bjs e abs
Ainda bem que cheguei aqui e apanhei esta chuvada: belo poema.
Domingos da Mota
Escrever tem, exige, predisposição, disposição e posição, não é coisa fácil mas não deve ser difícil. Pois, para complicar um pouco, só sentindo uma certa facilidade a fluir, o discurso encontra seu curso e deixa sua marca com imagem nítida e legível. Hoje – como se escolhe um dia? – achei não dever adiar publicar algo no blog, lendo neste blog colectivo.
…
Estava a pensar comentar o texto que tivesse menos comentários, rendi-me ao que tinha mais comentários, deixo então (o) comentário. Sem grande vontade de dizer porque gostei do poema: transmite tanta intimidade e poesia, apetece ficar nesse lugar indefinido, onde o ser ganha seus contornos.
Adriana, engraçado.
Entrei no blog do Francisco Coimbra para retribuir uma visita ao meu (coisa que não consigo fazer com a frequência que deveria, visitar outros blogs) e peguei uma citação ao poemadia que me trouxe até aqui. E não me lembro de ter lido sua postagem.
Posso dizer com muita franqueza que o poema é feliz demais, na troca, na simbologia.
Um poema essencial.
Maravilhoso !
Beijos, Rogerio
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