Meu olho corre*
Fato e foto
Nos grafos dessa luz
Que encantam meu afeto
Último ístmo
De onde parto e naufrago
No estribilho
- realismo é arte ultrapassada -
Sussurado por desconstrutivismos
Agarrados no costão
Lavado pela maré que vaza
À margem dessa trilha,
Vejo-me cindida,
Sargaço sem mar
Bóio em jogos,
Correntes gramaticais,
Coberta por nuvem
Carregada de signos,
significantes cinzas,
Sinais sem sujeito
Amanheço em solidão afásica,
Desnaturada, afundo
Versos e poemas na ponta dos remos
E a língua em aclive, gagueja
Se poesia é a liberdade
Da minha linguagem
Por que escrevo com medo de errar?
Erguem-se abrigos, casebres pós-modernos
Onde vivo solta à beira de abismos
Presa, por um fio, nas algas narrativas
Entrevistas como dejetos
E experimento prazer na falta de ar
Diante da perda de referenciais,
Afogo, no vórtice das calamidades,
Rima, ritmo, métrica, tema
E os leitores desamparados
Que me acusam.
Um diz ser o excluído
Do umbigo com que escrevo
Outra reclama ver prosa
Nas imagens - meu desejo de poema
Sem piedade, cometo heresias.
Quebro-me para ser capaz de andar
Sobre júbilo múltiplo
Pós - tudo, aguerrida
Tropeço em Barthes e Derrida,
Chuto Foucault
E adeus, Delleuze
Minha nostalgia - âncora e brecha -
Resgata-me. Nado pelo meio,
Atavesso a ressaca
De olho na palavra encarnada,
Falo em silêncio,
Agarro-me à letra,
Alcanço o porto sem cais
Minha única saída
Imagem: Foto de Marco Antonio Cavalcanti - publicada em O Globo Online
culpa do Henrique que escreve tão bem.
15 comentários:
Já conhecia o poema! Sou sua leitura assídua. Beijo, Bea!
Beatriz, Seu poema – além da evidência (de ser e ter sido escrita) é a leitura (Sim, senhora) e se muda, à primeira vez, – vem como vou tentar ler: único! Des_lumbrante, Luz iluminando!
Estarei a criar expectativas exageradas? O sonho, o desejo, o querer, todos os elementos para crer com Fé! Mas, caindo na real… no real, na realidade. É bom ainda não fazer ideia do que possa ir escrever, é como não saber o que se vai ler, é…
Acabei de copiar para o Word, pois os primeiros versos estão desformatados, i. é, estavam. Um longo poema… assim distribuído: 11, 9, 7, 5, 9, 7, 8, em 7 estrofes, com um total de 56 versos.
Tem alguma regularidade na extensão, no seu fôlego. Já fui detectando nomes, referências.
Classificando de forma rápida: um poema narrativo de incidência especulativa… Todas as coisas, reduzidas à sua “ínfima espécie” são… coisas. Enquanto o poema é poesia, alma!
Uma boa descrição/percepção do que é, de “si mesmo”: «Bóio em jogos,/ Correntes gramaticais,/ Coberta por nuvem/ Carregada de signos», sendo importante a continuação/conclusão… «significantes cinzas,/ Sinais sem sujeito».
Vou reler, «significantes» não tem a maiúscula, talvez uma alteração?...
Um poema trabalhado nos meandros da Língua, nas suas flutuações semânticas, alargando o seu espaço. Nota-se a falta de abandono, o que corta, delapidando, uma costela onírica que, ao mesmo tempo…, sentimos estará, necessári_mente lá.
Façamos com que ela impere, a liberdade solta!
1º,1ª estrofe –
O olhar «fato e foto», seguido e servido pela conceptualização «desconstrutivismo»;
2ª –
Imagens e descrição, intuição intriorizada;
3ª –
Aclive por declive? Até uma questão «Por que escrevo com medo de errar?»
(o tear do teatro, o seu teor…)
4ª –
«E experimento prazer na falta de ar», gosto na compreensão da força dos últimos versos! Vou segui-la:
5ª –
«Nas imagens - meu desejo de poema»;
6ª –
«E adeus, Delleuze»;
7ª –
«Minha única saída».
O poema como modo de ler o mundo!
O título “Ressaca”, entrei: fico. Uma boa solução, escrever um poema :) Bjs
eu gostei muito, Bea... mas não tenho conseguido comentar lá no Compulsão, não me atino com aquelas opções todas que aparecem na caixinha... rsrs
já tentei algumas vezes por lá, mas ao menos aqui consegui deixar um beijo e minha admiração pela tua poesia.
é, uma vez mais e sempre, água da fonte...
ficou melhor ainda, depois de minha nova leitura...
icnívrel!
beijo.
..PASSEI POR AQUI...
!!@V@NTE!!
Grandioso poema - Bea - que me tocou n'Alma, pois sou pequeno. De prima!
Eu curti, braçadas de poesia.
Beijos
Nossa, que bom quando a gente reencontra um poema como esse e faz uma nova leitura e se encanta e se apaixona.Belíssimo, parabéns pela escolha. Beijo.
A cada leitura fica melhor, sem dúvida. Sempre uma luta do poeta em lapidar e deixar tudo em seu lugar!
Amada Bea, não sei uma crítica à altura dos teus versos, tampouco me atrevo a sugerir coisa alguma que possa aliviar a tua inquietude. Eu me permito gostar, apenas isso. E gosto. Muito!
Bea,seu poema é fantástico. Compreendo bem sua insegurança; auto-crítica é barra. Quando a gente tem que brigar muito com um poema, retocar, mudar coisinhas, fica mesmo a sensação de que a coisa não ficou convincente. Nesses casos, o melhor é passá-lo para que outros (os mais chegados) leiam. Portanto, desencane. O poema está soberbo.
Muitíssimo obrigada a todos os comentários generosos e muito úteis para o aperfeiçoamento da minha escrita.
Aproveitarei cada um deles feitos todos com carinho e cuidado.
abraços gerais
Beatriz
Sem comentários, Bea. Até agora viajo na sua poesia. Bj.
Procurando caminhos, saídas, já as tem Bea
Já havia lido e não refuto nada
és persistente e com empenho é sucesso cada x mais
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