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( Para Aziz Nacib Ab’Sáber
geomorfólogo , mestre )
geomorfólogo , mestre )
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Não
Hesíodo não mencionou a besta
Hesíodo não mencionou a besta
dos espaços interiores da Terra Brasilis
assombração dos mares-de-morros
da depressão periférica
do planalto cristalino
assombração dos mares-de-morros
da depressão periférica
do planalto cristalino
embora compartilhe com as harpias
sua palidez
e o tal semblante donzel
*
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sua palidez
e o tal semblante donzel
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Seu pescoço de coruja girava 360º
pra bisbilhotar
a gatimanha
alheia
pra bisbilhotar
a gatimanha
alheia
a partir do pináculo do mundo
à maneira do nariz e das garras
de um quati
quando vasculham a rama podre
na catação de larvas
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à maneira do nariz e das garras
de um quati
quando vasculham a rama podre
na catação de larvas
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e os olhos estrigídeos, esbugalhados
terríveis
do predador noturno
denunciavam as mínimas imperfeições da presa
pelo simples capricho de criar distância
e humilhação
terríveis
do predador noturno
denunciavam as mínimas imperfeições da presa
pelo simples capricho de criar distância
e humilhação
antes do surto
de creofagia
da vomição dos guinchos
e do parto do excremento
*
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de creofagia
da vomição dos guinchos
e do parto do excremento
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*
O olhar, em si
avançava
em ondas denunciantes
, ou melhor:----------------------
estendia-se num feixe de partículas
iguais àquelas----------------------
que desgraçaram a carcaça
de Marie Currie
sob o jaleco de algodão
*
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avançava
em ondas denunciantes
, ou melhor:----------------------
estendia-se num feixe de partículas
iguais àquelas----------------------
que desgraçaram a carcaça
de Marie Currie
sob o jaleco de algodão
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Escreveu Sérvio
(apud Borges
in “El Libro
de los Seres
Imaginarios”)
in “El Libro
de los Seres
Imaginarios”)
que Hécate é Prosérpina nos infernos
Diana na terra, Lua no céu
e Deusa tríplice
*
assim como as harpias
são medonhas fúrias
no inferno
na terra
e demônios no céu
*
Diana na terra, Lua no céu
e Deusa tríplice
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assim como as harpias
são medonhas fúrias
no inferno
na terra
e demônios no céu
*
mas essa quase-harpia a quem me refiro
vai além:
vai além:
onipotente
onipresente
onisciente
habita até mesmo o cólon transverso de Hécate
a cloaca das harpias
a cloaca das harpias
e ali fermenta
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Homens que se renderam a seus caprichos
não souberam discernir a ogra sob as plumas
não souberam discernir a ogra sob as plumas
e
se escaparam
se escaparam
correram como loucos
com os ossos ausentes da medula
por toda aquela planície desdobrada de insônias
feito um Pierre qualquer
meio que relegado a ostra
*
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com os ossos ausentes da medula
por toda aquela planície desdobrada de insônias
feito um Pierre qualquer
meio que relegado a ostra
*
*
Tinhosa
no
alto
de
um
mourão
duma fazenda falida
a bicha-fera assiste ao pôr do sol
com o ventre imundo voltado para o leste:
no
alto
de
um
mourão
duma fazenda falida
a bicha-fera assiste ao pôr do sol
com o ventre imundo voltado para o leste:
*
espera, sem afã
que o próximo calango-símio
germine de sua toca
nas raízes do capim-guiné
com toda a gala daquele rei da Trácia
*
que o próximo calango-símio
germine de sua toca
nas raízes do capim-guiné
com toda a gala daquele rei da Trácia
*
- o incauto
soberano
que desvendou o destino
dos homens
e comprou a vida longa
ao preço
de seus olhos
*
soberano
que desvendou o destino
dos homens
e comprou a vida longa
ao preço
de seus olhos
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10 comentários:
Impressionante...
Abçs.
Amigo, companheiro de dia no poema dia, há uma identidade entre nós: estar aqui nos dias 12.
Nossa poesia revela traços desse mundo, ou disso que transcende esse mundo e chamo de absoluto tão diversos que fazem duvidar da unidade. Todavia, nossa originalidade mútua na forma de expressar nossas percepções nos faz próximos como no dia 12.
Maravilha conhecer teu mundo.
homenagem merecida ao Aziz.
E a nós cabe desvendar os enigmas nas imagens do poema.
Precisaria ler muitas vezes pra isso. Pra desvendar a hárpia.
Muito bom poema, Assis.
Grande abraço
Caro Assis, como sempre, surpreendente essa sua zoopoesia; tão supreendente quantoo Azis, grande mestre que tem o saber até no nome e que tive o privilégio de conviver. E convivo agora com vc, através desse espaço maravilhoso e dessa sua poesia que transcende barreiras.
Abraço.
Assis,
à medida que lia teu poema, ficava flutuando no Olimpo, numa harpa, na tua hárpia-ave-desvendada.Achei também o que pensou B.Franklin:impressionante.
Aziz e Milton Santos foram meus mestres na Universidade.
E se hoje sou poeta, é de uma poesia interseccionada na Geografia.
Confesso, sem nenhuma vergonha, que minha cultura não digere completamente os meandros do poema.
Precisaria de muitas releituras e alguma pesquisa.
Mas sinto-me no alto de um morro testemunho (pode ser o cuscuzeiro?) num final de tarde de outono.
Pessoal, muito obrigado pelos comentários. Alguns poemas saem bons, mas não sem antes a gente brigar muito com ele.
- Sergio, transcender o chão batido é minha meta; desde que perdi o universo do faz-de-conta da infância, venho tentando viver de ilusão e criar novos mundos imaginários. A literatura e a arte permite isso; a ciência não (Descartes matou a necessidade de sonhar), mas pode nos dar elementos.
- Sidnei, trazer a fauna e a flora para a poesia eu sempre faço, é meu dever como biólogo; desta vez trouxe também a geomorfologia.
- Rogério: pois é, o cuscuzeiro é mesmo um morro testemunho; tudo em volta dele ruiu no tempo.
Abraços a todos,
Chico
Harpia um dos poemas mais bem escritos nestes anos que li
algo indecifrável, mas toca, dança belissimo em sua estrutura e sentimento
Assis, uma obra-prima; não sei o que dizer, as palvras estão presas diferentemente da harpia que alcança longos voos. Belíssimo. Tocante. Impressionante.Parabéns. Beijo.
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