quinta-feira, 7 de maio de 2009

essas íris dissimuladas

1.

finquei minha bandeira
no beco de Bandeira
: planície longeva onde sobeja
o meu horizonte

onde a paisagem
começa e finda: estanque
entre tantos rasos tanques

e ainda que paisagem
apenas um estro tardio de Portinari
: lençóis e roupas tremulando nos varais

2.

o horizonte distante
(um lugar escondido): norte traído
em desencontros casuais

o horizonte esquecido
atrás da janela: mundo fechado
por uma tramela mordaz

3.

se a vida ainda fosse
uma onda, uma redondilha
o inverso do acaso
diferente partilha
um caso ocluso num mero ocaso

mas a vida é dura
escura e dura
a vida é de pedra
dura e escusa
o inesperado espinho
que enfim acusa o fim do caminho

4.

(e agora, Drummond de Andrade
onde pouso a pena
que plagia e encena
a tal realidade?)

8 comentários:

Tenório disse...

Poxa vida, que sensacional! Que inspirado, que coisa mais feliz esse poema... Estou muito contente que finalmente esse poema tenha sido escrito! Muito bom mesmo, amigo! Parabéns.

Renata de Aragão Lopes disse...

Também gostei muito!
Adoro diálogos com os grandes poetas.

Beatriz disse...

Magnífico canto de saudade da modernidade. Belo! Fundamental nestes tempos

Por-vir Sur parole

Sans parole

Audemir Leuzinger disse...

muito bom. gosto dos diálogos com outros poetas também. dessacraliza muitos. os faz descansar mais em paz, tenho certeza.

Benny Franklin disse...

Bom trabalho, Sidnei!

Fabiana disse...

muito bom mesmo!
ei, deixo uma sugestão
escutem o trabalho deste pianista
é muito bom
www.rodrigoandreiuk.com
: )

FC disse...

Elegante uso das palavras! Belo final, fora do discurso... (falando de dentro para fora ou vice-versa)

cisc o z appa disse...

gostei muito sidnei!


a língua
sua múltipla singularidade
em efusiva tentativa
de representar a realidade

bravo!