quarta-feira, 13 de maio de 2009

artesanal

caramanchão

assim envelheço
de olhar cansado
pro lado do quarto
que já morreu

até a surpresa
jovem mas frágil
de tão enganada
adoeceu

sem ter o cuidado
amadeirado
minha pele farta
se amarrotou

sem ter para onde
ir meu enfado
transformo em destino
cá onde estou

e onde me encontro
ausente de filhos
de netos amigos
de namorar

o que vai comigo
se é que a morte
é ir do destino
a algum lugar

reabro as janelas
e a luz senhora
mais velha do mundo
enlouqueceu

movendo o vestido
não mais acorda
a cor que a poeira
adormeceu

são tantas memórias
andando em volta
a casa esquecida
dos meus avós

velórios alpendres
serões e sótãos
tudo que o tempo
despe de voz

agora envelheço
de vez e por fim
não sei a quem devo
cumprimentar

que sinos são esses
que saudades
eu sinto no corpo
imenso do ar

9 comentários:

Beatriz disse...

Bonito.

Muito bonito. Sereno e forte.

Com linha, o poema é direto.

Limpo

Emociona na medida da elegância

que é marca este poeta

Renata de Aragão Lopes disse...

Belíssimo, Guto!
Digno de releituras!

Tião Martins disse...

Bonito. Uma faxina na alma.

Unknown disse...

Que lindo, Guto! Coisa boa ler esse poema! Que ritmo, que sonoro e mais uma vez: que lindo!

Adriana Godoy disse...

Bonito e elegante e poético.

Anônimo disse...

guto, atrasado com fim de mês de assalariado mas presente.
que poema é esse compadre!?
delicado, preciso, limpo.
lindo. imagine o efeito em quem tá chegando aos 50 se queixando vez em quando...

parabéns!

Anônimo disse...

bonito...reflexivo...estonteante...
tanianaodesista

Tenório disse...

Que coisa mais linda esse poema...

Felipe Vasconcelos disse...

Guto, esse é um dos poemas mais lindos que eu já li!