sábado, 21 de março de 2009

Esforço

Lembranças silenciosas
Escorrem em soluços
De saudade que não passa.

Tanta ausência põe a mente em desalinho.

Reviro gavetas e coração
E não acho o que usar por mim,
O que pensar, como esquecer.

O vazio ganha espaço no peito
Como a grama no quintal,
Que a chuva beija e o sol aquece.
Cresce todos os dias,
Independente do meu esforço
E alheio a descontentamentos.

Ressurge a sombra do que fui
E já não sei mais ser,
Mas ainda lembro e quero.
A dor de não ter sido
O que sonhei e quis,
O que poderia e não fiz.

Sufoco a vontade
De ter quem não alcancei,
Rasgo os meus retratos
Para não me recordar,
E a voz se cala ou se repete,
Óbvia e sem novidade.

Assim, acompanho o escoar dos dias,
Um depois do outro e de mais um.
Sozinha, busco em desespero
As forças que me faltam e restam
Para abandonar o que me enfraquece,
Fere, quebra, dilacera e quase mata.

Vera Pinheiro

14 comentários:

Ademerson Novais disse...

Como me mata a suadade do que quero, do quis e do que tive....como me perco ao saber das coisas que deixei pelo caminho por que simplesmente tinha que ser assim...por que deve ser assim....há coisas que terei que carregar, e outras que não posso levar....tantas lembranças, tantas....



Parabens pelas palavras.....

LG disse...

Vera,
Tenho um pacto: para cada palavra não dita, para cada dor sentida, uma rima escrita. Assim, transformamos nossa saudade, nosso amor, em uma arte sincera.
:-). Um grande abraço! Lúcia.

Anônimo disse...

Lúcia, escrever é um recurso que uso também, nem sempre em rimas, quase sempre em prosa, e assim liberto a alma do que a oprime. Obrigada por compartilhares o teu pacto, que transmuta a dor. Um beijo e meu carinho. Vera

Anônimo disse...

Ademerson, alegres ou tristes, as lembranças fazem parte da bagagem, e a caminhada segue, escrevendo a vida. Um abraço terno. Vera

Hercília Fernandes disse...

Intenso, Vera.
O eu poético expõe, sem reservas, as dores que permeiam os relacionamentos.

Gostei muito. Parabéns!

H.F.

L. Rafael Nolli disse...

e quase mata! Gostei do arremate, que finalizou em grande estilo!

Adriana Godoy disse...

"Assim, acompanho o escoar dos dias," às vezes, a sensação é essa: os dias escoam pelos nossos dedos. Bonito poema.

Anônimo disse...

Hercília, às vezes nem é a dor dos relacionamentos, mas a da falta deles... E não sei o que dói mais. Um beijo e meu carinho. Vera

Anônimo disse...

Nolli, a gente tropeça na dor, mas segue... com estilo! Ou sem, mas viva! Um abraço grande. Vera

Anônimo disse...

Adriana, é bom saber que alguém compartilha da sensação que experimentamos, nem sempre boa, nem sempre fácil, mas real. Beijo! Vera

Helena disse...

final matador - gostei

helena

Beatriz disse...

Vera,
esforço por um sentimento caro. Desejo e não desejo. Muito esforço. Assim somos.
Belíssimo

Anônimo disse...

Helena, o final (quase) matador é a minha sobrevivência... Obrigada pelo teu gostar.

Anônimo disse...

Beatriz, querida (Compulsão Diária), nessas idas e vindas do desejo e do não desejo, o meu esforço. Obrigada pelo teu carinho tão bonito!