sábado, 18 de fevereiro de 2017

A noite do Rato


1
quando ela avistou o rato cruzando a cozinha
– de um extremo ao outro –
 o pavor que se instalou foi irracional

se se tratasse de um ladrão
o desespero não seria tão grande
talvez tentasse argumentar
dizer: as joias estão na cômoda!
ou pedir clemência: piedade, tenho um filho!

com o rato, não:
não havia diálogo

2
toda a esperança estava ali:
uma ratoeira – comprada às pressas –
armada na varanda
por onde o animal escorreu
passando debaixo
– vão minúsculo – da porta

naquela altura
já não havia para onde ir
nem pra quem pedir ajuda

a noite seria longa e insone
assim como a noite do rato
farejando e varrendo a escuridão
incansável em seu propósito

3
não convém relatar – haveria palavras? –
a reação da mulher, logo pela manhã
ao encontrar um pobre pardal
antes alegre sobre o muro
– isso ela não viu –
debruçado sobre a ratoeira
degolado



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