1
quando
ela avistou o rato cruzando a cozinha
– de
um extremo ao outro –
o pavor que se instalou foi irracional
se
se tratasse de um ladrão
o
desespero não seria tão grande
talvez
tentasse argumentar
dizer:
as joias estão na cômoda!
ou
pedir clemência: piedade, tenho um filho!
com
o rato, não:
não
havia diálogo
2
toda
a esperança estava ali:
uma
ratoeira – comprada às pressas –
armada
na varanda
por
onde o animal escorreu
passando
debaixo
–
vão minúsculo – da porta
naquela
altura
já
não havia para onde ir
nem
pra quem pedir ajuda
a
noite seria longa e insone
assim
como a noite do rato
farejando
e varrendo a escuridão
incansável
em seu propósito
3
não
convém relatar – haveria palavras? –
a
reação da mulher, logo pela manhã
ao
encontrar um pobre pardal
antes
alegre sobre o muro
–
isso ela não viu –
debruçado
sobre a ratoeira
degolado
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