domingo, 24 de março de 2013

Ars poetica


Não tenho voz de queixa pessoal, não sou
um homem destroçado vagueando na praia.
Drummond

por certo não sou digno da poesia
é o que se comenta
nos pequenos círculos

não comi a flor de lótus
tampouco sai às ruas chapado de rivotril

também disso estou certo
– eles o dizem, por que duvidar –
não evitei o amor
 essa grande balela

sequer morri de tuberculose
(nos corredores de uma sinistra biblioteca)

é o que se comenta
quem sou eu para duvidar

não me matei (ou matei alguém)
pelas palavras – ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência a vossa, etc e tal –
muito menos tive a Grande Visão

não vendi armas ao rei da Abissínia
ou cruzei o país
– vagabundo em um vagão –
no encalço do Sublime


.

3 comentários:

Marisete Zanon disse...

Rasgar o verbo!!! Amei!!!
Beijos.

Anônimo disse...

muito bonito! parabéns

Thaís Ribeiro disse...

Olá,

Sou escritora amadora e mantenho um blog - "Contos nojentos". Indiquei o seu blog para a "Campanha de incentivo à leitura", ficaria demasiado contente se você participasse.

http://contosnojentos.blogspot.com.br/2013/04/campanha-de-incentivo-leitura.html

Atenciosamente.