Fotografia By Lee Jeffrey
[Para Marven. Irmão-poeta de vida e sonhos.]
"Não há poema em si, mas em mim ou em ti."
[Otávio Paz]
Tempo; oh, tempo rude, oh!
Com um silêncio sem lógica
alçaste as asas fogosas das orgias dos céus de quartzo-magma
qual feroz condor. E os vômitos das antes-laudas rasuradas
e os espinhos-fêmeos cravados em tumbas indormidas
são soluços que cabem em ti ― como cartase poética
onde cabem burburinhos mortificados.
II
Tempo; oh, tempo rude, oh!
Como um caimento de estrelas mal calculadas
te vi cair sozinho na vil sarjeta da gramática torpe.
E os efeitos da nervura da palma
e a torpe falação do reparte
e a flutuação verborrágica da após-partida
permanecem em ti
até que o lume da lágrima
seja revestido de salivas assexuadas
e uivos reinventados;
até que o porvir da lauda hermafrodita
seja resguardado da agonia recozida
― como os cárceres frígidos onde não cabem
olhares crucificados.
III
Tempo; oh, tempo rude, oh!
Covarde como uma mortalha pendente
no santuário do medo
rasgaste o manto da coragem
e amadureceste o sonho mal vingado.
Um poeta é de sempre [oh, tempo indefinível!]:
o que tu fazes hoje
o que tu fazes hoje
é a mesma castração do verbo amargoso
que fizestes em recurva de agonia conjeturada
sob calibre de açoite langoroso.
IV
Tempo; oh, tempo rude, oh!
Agora o vômito
e o vinco da rodagem falante
num poema baldio
para celebrar o sacrifício poético da moenda solitária,
dos anéis de fumo infartado
e das glaciais mui apunhaladas.
V
Tempo; oh, tempo rude, oh!
Lá fora
a evocação do fuzil ingênuo nos símiles das falações
― e a puta e a vidente e o jardineiro recolhendo
folhas do abandono.
Lá fora
o vergar da aurora nos tímpanos das algemas
― e o guru e o monge e o pedreiro reinventando
verbos-filhos do amanhã.
VI
Tempo; oh, tempo rude, oh!
Sou e sou
a contradição amarga que [vos] toca
como fúria ― o âmago!
2 comentários:
Benny, seu poema é tão complexo que chego a me perder nele. Parabéns pela elaboração de seus versos. Bj
sempre surpreendente !
agraçasso, Poeta !
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