Imagem por Eudoxya |
eu escrevo com uma pena e tinta
tinta-da-china
brinco:
escrevo com a esferográfica que estiver mais perto
embora o seu toque na minha mão
é que se transmuta mentalmente numa pena amuleto
pelo gozo borboletal que me dá a sua possibilidade em avessar-me do eu,
inverter eus residentes na minha identidade
autenticando-os no poema
escrevo porque apetece
tal e qual quando se fuma
por todo o prazer em mirar o fumo efémero
escapulir-se pelo tempo e por nós
interpretando-o ao expoente estranho e minucioso do sangue e da razão
tal e qual o bife poema dentro da boca
triturado ao jantar devagar
pelo paladar paciente do vice-versa de respostas circunscritas em questões
ou o doce café poema para melhor processamento corpóreo das refeições e dos dias
vicio, necessidade, álibi
arbítrio, disparo da veia e do neurónio.
não para que aplaudam
não para que chorem, riam
sim, para dar vida a telas
de tinta adubo para irreais respiradores
verdades utópicas para muitos
um animal vivo para mim, e para alguns
e claro, também vácuo, nulos ou vazios para outros
é minha propriedade e quando partilho
é de todos.
é gomo de laranjas de outras cores
amaciador ou nódoa selectiva
flecha
prego
lençol
asa
ou rupestre anzol camuflado para peixes vis
é arroto da minha mão
porque arrota-se quando a pança está satisfeita ou enojada
e entenda-se que cada um de nós é uma pança gigante chamada sentimento
sorriam ou chorem,
amem ou odeiem
será cheio sinal:
foi-vos eco ou reflexo
de qualquer coisa importante que valeu a pena.
Gavine Rubro
4 comentários:
A mão que arrota para aliviar uma pança que é puro sentimento... Uma imagem mesmo muito original.
Abraço,
Ana
Escrever é vomitar o que sentimos, é colocar ao ventos nossas sensações sobre o tudo.
Abraços!
Do outro lado da escrita a leitura, una-as sempre uma a-ventura: Parabéns!
Da poesia e seus gases, daí a Humanidade.
Bom desenvolvimento de tema.
Gostei!
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