sábado, 19 de março de 2011

Onde a poesia?



Espero a noite inteira
como quem espera um filho
que cedo saiu à rua

O coração em miséria se enlaça
na teia do desespero se lança
conflitos que surgem urgentes
pungentes delírios de quem espera
um poema surgindo
dos mistérios da aurora
como fosse possível
o nascimento de dois sóis

Antes soubesse que um poema
é como um gato que vive a espreita;
tão logo se assusta, esconde na sombra
sobre os muros, adentra folhagens
no escuro da noite
foge desvairado pra longe dos olhos

Incrédulo, empunho a caneta,
rabisco o papel, desenhos insanos
traçado obsceno:

A poesia não vem!

8 comentários:

Isabela Escher Rebelo disse...

Flávio,
acordei, tomei meu café e logo vim ter neste espaço. Sou leitora assídua dos lindos textos deste blog, e preciso dizer que seus versos estão entre os mais belos que já encontrei por aqui. Aliás, estão entre os mais bonitos que já li na minha vida. Gostei especialmente do trecho "como fosse possível/ o nascimento de dois sóis". O Sol está lá fora, o vejo pela minha janela, mas seu poema também é Sol que me cega de tão forte...
Lembrei-me de versos drummondianos ao ler os seus. "Gastei uma hora pensando um verso/ que a pena não quer escrever./ No entanto ele está cá dentro/ inquieto, vivo./ Ele está cá dentro/ e não quer sair./ Mas a poesia deste momento/ inunda minha vida inteira." (Drummond, em "Poesia").
Poderia encerrar agora, desejar que a Musa seja sempre muito generosa com você, mas, em vez disso, prefiro deixar aqui um presente: dois links de textos metalinguísticos totalmente meus. Cada um tem uma parte em prosa, e ao final, um poema sobre a Poesia.

http://olivroestanamesa.blogspot.com/2011/03/feliz-aniversario-atrasado.html

http://olivroestanamesa.blogspot.com/2011/03/excalibur.html

Carpe diem!

BAR DO BARDO disse...

Como nos sentimos sem os atrativos da musa... longe...

João Luis Calliari Poesias disse...

Sina, companheiro....

Quintal de Om disse...

mas aindatrago mais que alguns versos,
trago o perfume colhido
no inverso
do caos.
colho o dia num punhado de ias,
dessas minhas quase-idas,
celebro!
o louco e o ébrio -
semelhantes quando ditam
o que vai nas linhas de dentro,
colho o inverno!
nesse solo encoberto de beiras,
colho a beirada do verso,
é com ele que faço,
a calçada e o passo,
pra poesia minha
de cada dia,
passar.

Anônimo disse...

um excelente poema.

abraços
Flávio Machado

Joe_Brazuca disse...

mas veio !...e tipo, do bom !

abs

flaviooffer disse...

Valeu, pessoal!!!
Abraços a todos.
Paz e Poesia sempre!!!

kiro disse...

É lindo mesmo, menino!

Gostei deverás ♥