quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

VISÃO DO POEMA


As vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.

A despeito de embaraçar a visão do poema
resisto a revelar inverdade dos lírios de velórios,
dos abraços malbaratados dos náufragos
—  mas que esforços sobrehumanos são necessários
para varrer o assoalho dos poetas?

Urro a verdade das palavras
e ejaculo o poema ressequido
na gestação das flores estomacais dos invernos.
Bebo o ardor da falação
cujo excesso impede a resistência
e de quem a fala ejacula a expiação da algema
(exceto a dúvida que resiste em pé)
pois trafego fora de mim
— pacato ser, ignorado poeta!
Ver-me entre eróticas lágrimas
e fluídos de fêmeas laudas,
é ver-me (impaciente) amamãezado;
olhar que mesmo castrado
cambaleia galado.

Instante; oh, instante!
Releio-me e, em surdina soluço 
todos os orgasmos que conheço.
Reescrevo-me e, incontido nos papéis e jardins apiedados
(militarizados e sórdidos),
 afugento o inverno que em mim mora.
Ver-me na emoção de benta chama,
é ver-me atado na consumação do vazio
— qual ácida carne em genuflexão mental —
para que não suceda que meu sangue
amargue o derradeiro fel
ou receba os alimentos 
já assassinados!

By Benny Franklin
Twitter: BennycFranklin

6 comentários:

Sidnei Olivio disse...

Transcende a visão e as metáforas. Grande Benny. Abraço.

kiro disse...

Ilumina a poética em volúpias...

Encantador!!!

BAR DO BARDO disse...

... o belicismo intra...

Francisco Coimbra disse...

Caro parceiro de dia no Poema Dia, sempre um prazer te ler. Parabéns!

Francisco Coimbra disse...

Esqueci mencionar a foto, um fato (facto brasileiro) e tanto!

Evandro L. Mezadri disse...

Gostei muito Benny!
Me lembra as grandes poesias da geração beat.
Abraço e sucesso!