Como num alisar de cristais de quartzo
desço à minha mais terrena condição humana
pés descalços e no chão
relembro meus tambores
revisito minha ancestralidade
revigoro meus ritos
[minhas antenas].
Também
viajo nas notas de uma “Ave Maria”, de Bach –
[provida nas ousadias incondicionadas da garganta de Bobby MacFerrin]
enquanto isto
alumbreio a carcaça mais doce deste meu peito cabeludo que carrego
feito tatuagem.
O perfume inocente da paixão
permanece a percorrer
uma a uma
pétala por pétala
todas as pétalas das vontades aquecidas.
O sono não descobre outro caminho
e a rua [a rua, ela mesmo] permanece rindo
gargalhando das enxurradas que insistem
e lavam as manhas das manhãs iluminadas.
É sintomático:
nada faz tanto sentido
nada merece tanta explicação.
Apenas o silêncio persegue o olhar
na revoada de pássaros à procura de pouso
quando cruzam o pedacinho infinito de céu
postado bem acima de nós.
Passeio
no mesmo antigo passeio
da casa de tantos desejos.
Percebo-me
entre suspiros e conspirações intimas:
meus sonhos abriram asas e pularam
na hora de voar, voaram para onde batem os sinos sem senhores
sim senhores
sem senhores, sim.
Enquanto a porca torce o rabo
apenas alguns de nós
alguns, apenas alguns
continuam a seguir cabisbaixos
alguns, apenas alguns continuam
[a ser aquilo que se acostumou a ser]
em silêncio.
*Nota ao pé do texto: enxurrada foi uma das palavras mais difíceis que eu escrevi neste minifúndio literário.
7 comentários:
Tua paisagem escrita é minuciosamente absorvida em penetrancias da pele...
Gostei sobremaneira do estilo de seres...
Com carinho...
uma fantasia verbal
Partida, Chegada e passeio...Viagem.
Bela obra, Cléber.
Formada por imagens muito vivas.
Abraço e sucesso!
Deve ter sido o mais belo poema que li hoje.
abraço, poeta.
Gostei.
ótima poesia...gostei muito !
( e esse "momentum" do macferrin, é "superbe" mesmo...)
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