sábado, 5 de junho de 2010

TREM DE FANTASMAS

Fotografia by Ana Mokarzel

I

Tenho aprisionado n’Alma
a puberdade das horas do infinito.
Coexisto desde o ido boquiabrir do sacrifício.
Deus: em Belém faz mormaço;
Deus: nesse clima eu teimo em seguir
poetando sob um trem de fantasmas
e enciumo as pedras do reino
e soçobro nos corpos recozidos;
Deus: para fugir dos entre parênteses
eu me renovo
nos insuportáveis mictórios
da ilusão...

II

Lá fora:
Fêmeos gozares resgatam paragens
e caramujos de risos tristonhos em cópula na madrugada
ejaculam no bacio do olhar
um cadinho de nada;
descrêem o existir,
resvalam no medo.

III

Aprendi:
Descaminhar verdades marginais
sem que silvos mofodigitais sangrem egocompletados
municia o ar-lume da pólvora,
alimenta o canivete,
escalda e assassina
a ternura do porvir.

IV

Deus!
Oh, Deus das pálpebras negrejadas!
A hipocrisia seduz o banquete das palavras
e esquece que há vida em torno do poema.
Oh! Pode haver derrame de sangue e canibalismo
se todas as verdades
não forem multiresgatadas.

V

Ai! Ludibriar a hora da aflição não satifaz.
Coar a saliva do nódulo-sêmen não completa
e nem requenta o alimento transgredido
da sarjeta que dói...

VI

Ai!
Viver é como um afugentado espírito
que não prova o sensabor...
É como fazer amor e amar o medo da espera...
É como esquecer o fuzil e mamar no rubro seio da lama...
É como catar no estômago
um poema esfomeado
e ainda ter que repreender o ódio
a duzentas milhas do padecimento da fala.

© Benny Franklin

2 comentários:

Joe_Brazuca disse...

sua poesia é sempre [quase] complexa e [mais que nunca] visceral !

gosto de ler-te, Benny ! [muito]

("...É como catar no estômago
um poema esfomeado
e ainda ter que repreender o ódio
a duzentas milhas do padecimento da fala...")

Maria Cintia Thome Teixeira Pinto disse...

Bom sempre

ab