segunda-feira, 17 de maio de 2010

imagem: delrei.wordpress.com


O que me irrita
é essa obrigação de ser feliz.

É essa pretensão de sempre vermos cores em tudo,

de apreciarmos os amanheceres,
de nos encantarmos com cantos,
de nos divertirmos com crianças pelas ruas,
de pularmos carnaval,
de acharmos singela a ignorância alheia.

O que me irrita
é essa indecência que é assumir frustrações.

É essa incapacidade de nos assumirmos limitados.
Essa alegria toda, por conveniência.
Essa baboseira em que nos tornamos.

O que me irrita
é essa futilidade em que se tornou
o ato de sentir.

7 comentários:

Renata de Aragão Lopes disse...

Como se não tivéssemos o direito
a manhãs e tardes nubladas...

Victor Meira disse...

Ah, essa ditadura da felicidade existe mesmo, e irrita bastante.

Lírica disse...

Diego, isso tb me irrita. Só não me irrita mais porque, não é real, é tão impossível que nem acontece de verdade. Finge-se sim, mas não se sustenta a farsa por muito tempo. Talvez continuem tentando por ignorância filosófica e emocional. O estoicismo verdadeiro seria até louvável... e até certo ponto. Mas o arremedo disso é vergonhoso. E aqui estamos nós em louvável atitude cultural para denunciar tais mazelas. Viva o Poema Dia!

Anônimo disse...

Sensacional!

A J Lobone disse...

Belíssimo!

Cristina Sandoval disse...

Não sabia que escrevia tão bem,
é encantador até quando escreve!
Gostei, realmente instigante.

TON disse...

Dessa felicidade ilusória, temperada e forjada no ego, na vaidade, na posse, no consumo, dessa felicidade enganosa e que só causa sofrimento, urge que nos libertemos. A outra felicidade, advinda da paz de espírito, da compaixão pela vida, pela percepção de que as coisas são o que são, nem boas nem más, apenas as são, essa felicidade submersa em nossa essência, essa nos é fundamental. Mas essa é outra jornada.