domingo, 11 de abril de 2010

Uirá

e eu que já tinha cagado
vi com o sol seu primeiro raio de sombra

é um cigarro que racha
qualquer coisa que entorta
uma curva de montanha
rosada roxa e lilás de sombra
foi um raio preto
nasceu com o café e o doudo
espasmo do que não o é

tendões de araucária
sendo harpas de um
manto dourado de cidade
a cidade de breu e ouro
que é o cristo estilhaçado de andaimes

quem escala um cristo novo
quem queima o sabão em pedra
dos meus corações aflitos
corações de osso musical

magrezas de olhar farto
palma ampla

e as noites sempre começarão
deixando vago o colo sem mãe
de matriarcado de pindorama
sem mãe

matriarcado sertanejo
abrindo estacas
no terreirão de pedra
calça sandálias em
um cão carpinteiro
fagulhas de um latino cego
sabedor de um manto cego

tudo é essa cordilheira árabe
esse manto mouro amordaçado
herança velada de um latido cego
raio de sombra
invenção de sol tardia
luz verbo zero


à Uirá dos Reis, e ao seu impressionante "An".

5 comentários:

Maria Cintia Thome Teixeira Pinto disse...

Excekente, tocante!

abs

Adriana Godoy disse...

"e as noites sempre começarão
deixando vago o colo sem mãe
de matriarcado de pindorama
sem mãe"

Poema belíssimo, e destaco esses versos. Parabéns! Bj

Heyk disse...

brigado, queridas!
esse é um poema de homenagem ao uirá, um poeta cearense que vale muito a pena, deixou seu livro e ele tem me suscitado coisas muito boas e profundas.

obrigado!

Heyk disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Benny Franklin disse...

Muito bom!