30/05/03
A poesia refugiou-se, não morreu. Incompleta, fragmentada, ela está borbulhando no mais profundo caldeirão de idéias: no peito do poeta, na voz do povo, na mais sangrenta terça-feira ou no débil gemido de uma criancinha ferida na escada.
Basta beber na fonte certa, desobstruir o obstáculo certo, delimitar e repensar os caminhos certos.
Despudorar: se o verso anunciar um hecatombe, dar ao povo, em anúncio não misericordioso, o hecatombe. Revoltar: se o verso exigir uma revolução, dar a todos a chama, o estopim, a ordem.
A poesia refugiou-se, não morreu. Ela se arma na mais verde floresta, na mais longínqua vontade, no mais profundo desejo: ela ressurgirá como um afogado de três dias que vêm à tona para feder.
* do livro Memórias à Beira de um Estopim
13 comentários:
Em prova ou em verso, tu és sempre bom, Nolli! Só estranhei hecatombe, substantivo feminino, no masculino. Licença poética, claro. Beijo.
Vera, sabe que essa licença poética me incomoda um pouco. Escrevi o poema assim, e passei a publicá-lo utilizando "uma hecatombe". Eu acho que da forma que está aqui, não está soando muito legal - ante eu achava, e acho que estava equivocado.... Estou procurando uma forma definitiva para isso. Valeu pelo comentário e por possibilitar essa reflexão! Abraços!
Muy buen blog, escribes estupendo. Me ha gistado todo. Felicitaciones! Ubn abrazo.
Nolli...isso não é "apenas" uma poesia..é um libelo !...e que belo !
abs
a poesia do Nolli é sempre visceral...palavras que gritam num manifesto sem a necessidade de passsar ilesa, ou de deixar ileso quem passe. Impossível ficar indiferente ante a poesia quando ela nos salta aos olhos e se anuncia.
Muito bom o poema!
Muito bom, Nolli, como sempre, forte como um soco, sem perder a poesia
O poeta de fato colocando a poesia além de e maior que o próprio poeta. Uma poesia que existe independentemente do poeta, que apenas está por aí, sendo percebida pelo sensitivos. Vasto e contundente, como sempre!!!!!!!!
Recomendo o livro do Nolli. Excelente.
Como sempre, fora de série. Destaco o último parágrafo, e desse, a última frase. Fabuloso.
"Basta beber na fonte certa."
Pois adoro
a fonte em que bebe
- se é que potável. (risos)
Abração, Nolli!
Vc tanto faz se em prosa ou verso, hein? E esse último parágrado-estrofe é absolutamente incrível.
Quanto à hecatombe, no feminino eu acho que soa melhor. A gente lê o hecatombe e meio que tropeça, tirando a atenção do verso. Mas isso sou eu, né?
Um beijo do Recife.
Amigos, agradeço pelos comentários!
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