Vejo o dianoitecer...
E a neblina que sobe lambendo o ladrilho
e sua trilha cheia de um brilho fugaz...
Vejo gotas de diamantes descendo pelo ralo
Ninguém ouve o que eu falo
e as nuvens brancas de algodão,
felpudas pendendos tornos
em torno de mim, logo irão
me abraçar... e eu suspensa no ar
entre nuvens e plumas e espumas
e algumas idéias... a sonhar...
Quando vou por os pés no chão?
Vejo a noitestrelada acender
outro dia com uma luz mais fria...
E vou me esconder na trincheira
que cheira a almíscar e sândalo e patchouli.
Vou banhar as penas de ganso
com minhas penas, meu ranço de ser
um pedaço edípico sempre a desmerecer
com meu traço típico de psiclichê,
o que a vida me parece ser...
E o tempo segue a pintar as paredes do dia
hora em tons que gritam, hora em pastéis
E seus ponteiros fiéis vão me cutucar
Até eu desistir de esperar tudo mudar.
Deixo a vida me roer porque se eu crescer
Como vou caber em mim?
5 comentários:
Lirica,
lindíssimo seu poema.
Me emocionou tamanho sentimento.
Obrigada.
Beijo.
Que fim maravilhoso. Seus períodos baixos se convulsionam em poesia e se transformam em beleza viva, pura, translúcida. As passagens sagazes não ferem a melancolia nem o sentimento da expressão; antes, pontuam o choro com fios de diamante.
Fico enternecido, quase enlutado. Fico velando a poesia, relendo.
Que poema maravilhoso. Fiquei com medo no início, por causa de algumas palavras que poderiam flertar com o piegas, o excessivamente poético. Mas não acreditei: alcançou algo que busco e que é raro: alto teor imagético com a maior simplicidade.
'o tempo segue a pintar as paredes do dia' e 'deixo a vida me roer porque se eu crescer como vou caber em mim?' é genial, genial.
Belíssimo!!
Agradeço a todos e sinto-me alentada em perceber que falo... e me ouvem!
"Deixo a vida me roer porque se eu crescer
Como vou caber em mim?"
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