Claro que é possível ser feliz sozinha!
Mas não precisava existir noite de sexta-feira
Nem devia haver madrugadas
Quando a vida se mergulha em saudade.
A noite avança vagarosamente,
O silêncio é cúmplice do pensamento,
Pensar acorda fantasmas do passado.
Em noites vazias como esta,
A melancolia invade o coração
E tudo se preenche de ausência.
É como estar lindamente vestida
E entrar em um salão para festa
De que somos convidadas.
A orquestra toca a música predileta,
Mas todos já foram embora.
Estamos enfeitadas, o lugar é belo,
Ainda existe melodia, mas não há
Quem tenha permanecido à nossa espera.
Perdemos a festa
E só nos resta voltar às relembranças,
Tirar a roupa que fantasiou a felicidade,
Desfazer a maquilagem que desenhou um sorriso,
E adormecer sonhos, esperas e ilusões.
Quando acorda, no dia seguinte,
A gente não sabe se viveu ou se sonhou.
Apenas sente que o vazio não se preencheu.
Vera Pinheiro
15 comentários:
Vera,
falei de forma semelhante
em "Fim da festa", lembra-se?
"Tirar a roupa
que fantasiou a felicidade"
"A gente não sabe
se viveu ou se sonhou"
Eu simplesmente
ADORO o tema! : )
Um grande abraço, amiga!
Querida Renata, não lembro do teu "Fim de Festa", mas vou procurar aqui. Espero não ter, inadvertidamente, te plagiado...rsrsrs. Na realidade, a dor de uma mulher é a de todas, assim como a cura de uma é bálsamo para a alma de todas.
Para ser sincera, não adoro o tema, mas o vivo até as entranhas. E dói. Mas um dia se cura, boto fé!
Beijos e meu carinho.
Em tempo, e de forma recorrente: eu gosto muito dos teus escritos, poeta!
Vera
“Fim da Festa”, da maravilhosa Renata de Aragão Lopes, é um dos quinze selecionados no IV Prêmio Literário Livraria Asabeça - Poesias, Contos e Crônicas, realizado em 2005, pela Scortecci Editora, e que integra a respectiva antologia. O post, de 23 de fevereiro de 2009 no Poema Dia, é uma leitura encantadora. Perdi o “Fim da Festa”, querida Renata, mas li hoje e te cumprimento com quase um ano de atraso. É muito mais bonito o teu escrito sobre o tema. Beijos e carinho de novo!
Sempre o vazio...
Vera, esta sensação de vazio, esta melancolia, de perda, de que pensar suscita fantasmas indesejáveis me preocupa... ainda mais quando se atribui isto às mulheres. Tudo bem, Freud já o dizia. Mas Lacan me confortou dizendo que este é um sentimento universal e não feminino: a sensação de incompletude, de falta com a qual precisamos aprender a conviver.
Mas você simbolizou bem com a idéia da festa.
Parabéns.
Vera...antes de mais nada: como entendo o seu "noite de sexta-feira"!! Cai como uma luva...acho que: ou não deveria existir ou ninguém deveria ficar sozinho, pelo menos nas noites de sexta-feira...muito verdade!! rs
Gostei muito do texto...por ser bom mesmo e por afinidade: parece que vejo muitas ideias, que coloquei em textos meus, salpicadas pelo seu...muito bom!
Rafael
Lirica, a dor da ausência talvez não seja um sentimento feminino, mas universal, mas sou mulher e assim sinto o vazio. Não posso falar pelos homens e, na verdade, gostaria que ninguém experimentasse isso, que todos os seres fossem felizes. Beijos.
Rafael, ou se acabam as sextas-feiras ou a gente dá um jeito de ser feliz apesar delas, se viver as ausências que estragam um dia tão bonito e que não tem, diretamente, a ver com isso. Fiquei, de certa forma, aliviada por saber que esses sentimentos são compartilhados por um homem. Injustamente, às vezes penso que o vazio é uma vivência essencialmente feminina. Larica apoiada por Lacan, disse que não é. Eu sei apenas o que vivo, sinto, compartilho e posso assinar embaixo.
Abraços na virada de quinta para sexta. Mais uma sexta!
Indelével, pois é, o vazio está por aí, por(r)aqui, a espera de que se preencha da felicidade que a gente quer e merece. Não faço teoria do vazio nem das ausências, experimento e escrevo, cravando letras onde as palavras, gestos, afagos e presença se ausentam. Beijo!
Pode ficar tranquila, Vera...os homens também sentem este tipo de coisa sim (e muitas outras). Mas é difícil admitir e quando admitido é difícil expor..há uma cobrança cruel em cima do "perfil machão"...acredite!
Então, que tenhamos uma excelente sexta-feira!!
Vera, poemaço esse!
Rafael, acredito, sim, e lamento muito. Honro a tua sensibilidade e a tua coragem, como também honro todas as pessoas incompreendidas que se permitem ser, sentir e se revelar, apesar das expectativas alheias que querem enquadrá-las num modelo previamente estruturado, mas em desacordo com o jeito de cada um, suas histórias, dores e aprendizados.
Nolli, querido, obrigada. A vida é muito mais. Ela, sim, é um poemaço, que emociona, faz rir, chorar, crescer. Abraço grande com carinho.
Vera
nós AINDA pegamos as migalhas da sobremesa do banquete da festa...
o que sobra aos nossos filhos ?...nada
eles terão, cada vez mais, que arpender a viver "em solo"...
muito bom !
bj
Enquanto isso, Joe, aprendamos a conviver com a solitude. Beijo agradecido.
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