quinta-feira, 15 de outubro de 2009

POEMA CANÔNICO?



(para o Heyk Pimenta)

Caso, intestino solto,
Desejasse aliviar-me na moita,
E comigo apenas um pedaço
De poesia num papel,
Qual seria o papel da poesia
Senão o de limpar-me as partes?

* *

Que importa se Peri vai
Ou se Peri vem?
À floresta basta existir
E tudo o mais será
Árvore, Peri, riacho.

* *

Do mesmo jeito, um poema
Que se olhe no espelho
E afirme: sou profundo e visceral
Ou: sou um nervo exposto
Mais ainda: sou cheio de símbolos,
Não passa de sumo de discurso de gente,
Não passa de performance gráfica de autor,
Não passa de menta de pimenta.

* *

Coitado do Maiakovski
Que morreu sem conhecer os poetas de hoje!
Infeliz da Pessoa
Que nunca lerá os poemas do dia!
Pobre do Drummond
Ignorante de tanta rima recente!
Tornar-se-ão menos sábios, ó extintos senhores,
Ao desconhecerem tanto engenho novo...

* *

E coitado de mim
Que, já com os punhos roucos,
Não ponho nesses versos poucos
Mais do que um discurso irônico.

* *

Só ao leitor caberá dizer
Se um poema é canônico.

22 comentários:

Tião Martins disse...

Grande Tenório! A moça que tomou doril por acaso se chama neusa?

Bela homenagem à criatividade e à publicidade!

Abraço!

Sidnei Olivio disse...

Grande lance, Tenório. A leitura do Tião foi perfeita: o "aproveitamento" publicitário dentro de quadras poéticas. Abraço.

Heyk disse...

é engraçadinho o da terra... mas é isso: fazer samba nãao é contar piada, já diria o vinicius!
a elisa lucinda tá a nove anos com uma peça em cartaz fazendo careta e poema piada, faz sucesso, mas eu jamais compraria um livro dela, o poema não fica, cara, só a performance segura ele... ninguém usa um negócio desse pra curar uma dor, ou sentir uma dor, é uma pastilha, um halls pra refrescar...

Heyk disse...

não é todo poema que é pra sentir dor, mas é pra ser profundo, pra mostrar a todos o nervo exposto. o poema piada refresca. pra quem gosta de comédia digestiva, é joia.

nem tiro o mérito do poema, que termina bem, mas a construção dele é toda uma história de rima simples com muito símbolo comum. é pouco.

Tião Martins disse...

Porra Heyk, tu é chato pra cacete!
Ahahahahahahhh!!!

Como é que alguém analisa poesia com essa arrogância?

Deixa disso...

L. Rafael Nolli disse...

Muito bom, meu camarada. Cá entre nós, meu velho, que povinho chato essa Alta Cúpula Poética. Um bando de burocratas. Gosto disso, poema inesperado, fora dos padrões pré-estabelecidos. Um abraço.

Victor Meira disse...

Ah, Tenório, para com isso. Vai privar a gente da sua poesia por causa de UMA crítica?

Po, a gente tem é que festejar quando isso acontece. Se não a gente fica num reboliço constante de pequenos elogios aqui nos comentários. Quando a crítica vem, é oportunidade de rever algumas coisas da nossa poesia, ou de formar um diálogo maduro com a poesia de quem te criticou.

É coisa boa, Tenório. A crítica mostra que o cara leu e ingeriu a poesia a ponto de se incomodar, e de se expressar por conta disso. E é massa se expressar não só quando a gente gosta do poema, mas quando o texto incomoda também.

Vamo lá, quero ver esse samba acanhado.

Um abraço, e vamo se criticar, gente!

L. Rafael Nolli disse...

O Victor disse tudo. Assino em baixo.

Tião Martins disse...

Crítica é uma coisa boa. O que o Heyk fez tanto em relação ao poema do Ton quanto do Tenório foi arrogância e falta de educação.

Não conheço pessoalmente ninguém aqui, gosto de alguns poemas e de outros não. Mas não saio me atribuindo ares e poderes de análise absoluta em relação ao trabalho dos outros.

É o que eu penso. Abraços a todos.

tenório disse...

Victor Meira, tu é um gentleman. Desmonta a gente, poeta. Mas saiba que não fiz a coisa por despeito não. Foi uma crítica bem humorada à crítica do Heik. Pense comigo: ele não quis, através de palavras sinceríssimas e (convenhamos) sem o seu tato e finésse, me dizer verdades? Ao meu modo, quis demonstrar que talvez ele também tenha algo para refletir e aprender sobre poesia. Tenho ou não tal direito?

Gostaria muito de recolocar o samba acanhado, mas você acredita se eu te disser que não tenho mais é vontade? Risos. Sabe aquilo de 'passou o momento'? Não faz sentido, a motivação já é outra. Mas para não deixar de atender ao seu pedido delicado, vou colocar um poema que fiz, motivado pelas críticas do Heik Pimenta. Ou seja, um diálogo maduro com a poesia de quem me criticou. Isso não é ótimo?

Victor Meira disse...

Hááá, demaaaais isso aqui!

Cara, Tenório, cê me surpreendeu, irmão. Que coisa boa esse papo! Respondeu com diálogo e poesia boa. É provocativo, mas fica nu e dá a cara a tapa no fim, quando admite ser nada mais que "discurso irônico". A estrofe dos poetas-cânones é boa demais.

Gostei muito. E pode escrever: próximo dia 11 vai ter volta, hahaha!

Ótimo, ótimo!

Tião Martins disse...

Muito bom Tenório! Pelo menos a babaquice do Heyk serviu pra vc fazer mais um bom poema!

Pimenta no intistino dos outros é refresco.

Heyk disse...

É isso mesmo.
Acabou virando um post crítica da crítica. e acabou também, além de vir um poema melhor, veio como resposta no próprio post um poema útil, não que tenham que ser úteis os poemas. Mas esse é útil porque põe em cheque tanto o poema de hoje, ou seja, o poema dia, como a crítica de hoje. Aí resolve tudo e esse espaço passa a ser um espaço mais interessante pra mim.

Gente, é verdade, pensem aí, você não estão cansados de aplausos domésticos: de nossa mãe falar: que poema lindo filho.

É assim que me sinto quando chego nos blogs pra que escrevo: um monte de aplauso doméstico, um monte de elogio a coisa nenhuma, um monte de resposta pronta pra poemas não muito melhores que as respostas.

Aí, nessa sexta fui entrevista pelo pedro chammé sobre o poema dia. E disse a ele que me dava náusea tanto elogio a poema normal, ou convencial, ou tradicional, ou conservador mesmo. E muito mais aos poemas que nem poema nem texto de gênero algum eram, poemas que eram só posts, e olhe lá.

Aí fui lendo os primeiros poemas do poema dia e fui dizendo a ele o que achava dos poemas. Aí percebi que estava sendo eu tão superficial quanto aqueles que escrevem aplausos módicos, não falando nada. E até pra colocar minha mão no fogo, e finalmente pela primeira vez gerar alguma coisas viva nesse nosso blog, resolvi postar nos comentários as críticas que tinha feito na entrevista, sem editar nem nada. Como se tivesse essa intimidade com os autores para: esquentar a casa e claro, dar-me uma palmatória, posto que não participo direito de um lugar que reclamava na entrevista ser um lugar normo. Quem sabe agora não o esquentamos, né?

E outra, agora inclusive, gostei do poema resposta. Não como lição, nem como conteúdo (apesar de esse ser bom tbm). Mas gostei da estrutura, da linguagem, gostei de tê-lo visto por aqui. Melhor que a maioria das coisas que são postas.

Agora, que não corcondo em colocar os mortos do meio da conversa não concordo. E claro se eles tivessem entre nós, não entre nós mesmo, mas entre caras supreendentes vivos, como o afonso henriques neto, o roberto piva, o que conheço a pouco tempo - armando freitas filho (que poeta interessante); eles aprenderiam muito.

E quanto a mim, claro, novo, arrogante e seguro de ser o que sou, perdem sim, os clássicos em não tirar meia hora pra bater bato conosco num boteco ou num café, claro que perdem. vimos tanto vemos tanto todos os dias. inclusive no dia de hoje, no poema dia, de agora em dia-nte.

Heyk disse...

ah, e tião, chato nada, firme. a coisa é pra todos, usemos o melhor de nós todos os dias. eu sei fazer isso, passar fogo. que aliás a muito tempo não passo em nada. aqui tava frio demais, coloquei-me aos serviços da casa.

Heyk disse...

Ah, e claro gente: Pra deixar a coisa acontecer de fato, lembrem sempre, não conheço daqui nenhum poeta, e por isso, poetas, não se sintam ofendidos. Aqui falarei sempre da obra. do poema, não do poeta, que por ser poeta já tem motivos suficientes pra se ofender, mesmo sem levar em consideração o que irei dizer.

Me interessa o texto. Mas claro, se achar que vale um comentário ao que disser depois o poeta como resposta, falarei disso tbm. Mas levem a sério, quero saber só do debate, se quisesse briga seria jujiteiro malvado. Sou poeta, quero debate, ideia nova e pares pra tanto.

vamos?

L. Rafael Nolli disse...

Heyk, estou aqui todo dia 24, será um prazer receber um comentário seu - recebi uma única crítica nesse tempo todo, e foi uma crítica que me fez pensar algumas coisas. Acho, aproveitando o gancho, que a questão aqui é o número de poetas, o que trás consigo uma número grande de estilos, de intenções e de formações intelectuais, o que tento levar em conta ao comentar. Aliás, ressalto que esse tal "número de poetas" cria um espaço democrático, com poemas para todos os gostos possíveis - o que talvez seja o que há de melhor aqui. Muita coisa não gosto: não comento. Gosto muito de vários, ainda que estejamos distantes ideologicamente, ou nos posicionemos em lados opostos da visão sobre "o que é" e "para o que serve" a poesia. Hoje percebo que é uma questão de afinidade com poemas e com poetas, que vamos conhecendo melhor e compreendendo os seus motivos, as suas (sem)razões para escrever, o que ajuda a iluminar o caminho da leitura - e muitas vezes a obscurecê-lo, o que quase sempre é muito bom e positivo. É isso. Abraço a todos e ao Tenório, que leio sempre.

Tião Martins disse...

Heyk,

Vc continua achando que sabe qual poema é melhor ou pior. Não entendeu nada.

Isso aqui é morno? Claro que é. É só um blog de poesias. Cada um, movido por motivos bem subjetivos e interesses os mais variados, elogia ou critica quem quiser.

O que vc fez não foi esquentar o blog. Foi ser grosseiro e arrogante com os outros. E por mim vc não passa assim batido.

Firme uma ova. Além de chato e arrogante, vc não teve a humildade de pedir desculpas. Vc não esquentou porra nenhuma. Entornou o caldo.

tenório disse...

Quero debate, ideia nova e pares pra tanto, disse o Heyk. Conte comigo, poeta; não para concordar sempre, mas para contrariar-lhe as verdades, o que vai ser ainda melhor, risos. Terás em mim não um rival, mas um igual em autonomia intelectual.

E aí vão algumas ideias novas para você aprender e refletir: os clássicos não perdem nada com a gente, porque nem eu nem você temos acesso à poesia alheia. Poesia é colheita misteriosa e intransferível.

Donde desenvolvo a ideia do grande Nolli acima: à poesia, depende o temperamento do leitor. Em pairagens pacíficas, não servirão os poemas de guerra. A um sertanejo machucado, que bálsamos serão os poemas de levante, de revolta! A um leitor recém-nascido, engatinhando nesse mundo, bastam poesias coloridas, que falem da água, da montanha, das agruras do sabiá, de cores. Poesia é questão de afinidade.

Mas isso talvez seja o mais difícil de você entender ainda, dentro da sua poderosa natureza glauberiana. Porque é preciso que seja menos arrogante. E saiba que aqui não estou levando para o pessoal, só penso no bem da sua produção. Acho que (e cada um de nós tem um ponto onde a coisa pega) a sua obra vai crescer muito com a assimilação desse ponto: a simplicidade. Leve esse conselho.

Para alguns poetas é preciso a lição da profundidade, do complexo, do questionamento, da autoconfiança. Para sua obra, porém, acho que é o aprendizado do simples.

Aconselho, quando vier a Sampa, a dar um pulinho na exposição sobre a obra do Leminski. Acho que ele vai te ensinar muito sobre isso. De fato, acho que ele é quase o seu duplo.

É isso, caro poeta. Da minha parte, agradeço a sua natureza firme, prepotente e solar, pois (como segredei a minha esposa aqui) foi graças a ela que me vi instigado, inspirado e incentivado a fazer poesia visceral, como há muito não ousava.

Vamos!

tenório disse...

errata: em paragens pacifícias. mas a ideia é a mesma. risos.

Heyk disse...

legal. vamos de simples. à toa e sem tempo rpa responder a tudo, tive muito de um simples novo, de um simples inédito no manoel de barros, a simplicidade da sinceridade. maneiríssimo. lá vamos nós. obrigado a todos os puxões de orelha, e desculpa, como o mautner, eu não peço, ainda mais se não agredi ninguém, e nem o quis. axé e continuemos.

Joe_Brazuca disse...

grandes "canonicidades"...
e olha que, dentre todos por aqui, EU sou o mais "canônico", por natureza...rs

o debate engrandece, sempre, mesmo que seja sobre coisa nenhuma, já que é isso que é A POESIA !( ja disseram muitos e outros tantos...rs)

muito bom a poesia e o quebraqueixo !

abraço aos poetas, criador e homenageado e emotivos todos !

Joe "Canônico" Brazuca

Felipe Costa Marques disse...

sensacional tudo, e todos.

bjs e abs