...a lâmina combóia o que lhe passa ao perto e ao longe...
Poema dedicado à memória de Aníbal Beça
(Escritor que melhor nutriu a raiz da fecundidade poética amazônica,
teve vocação genesíaca).
I
Concreto
o poema
após-manufaturado
age
como escápulas baldias
inteiramente arvoreadas.
II
Absortas
raízes voltam a crescer no homem-palavra.
(É dificílimo negá-las uma porção de poesia
quando elas afrontam o dia
com suas vaginas de fome...)
Por elas
a lâmina combóia o que lhe passa
ao perto e ao longe
e sua seiva saliva no esgoto
o que lhe move e entedia
e se manifesta como verrugas em couve-flor
e se devassa como gritos
que são entretidos e enforcados
e seu alimento fermenta o que lhe caçoa e amarga
e seu verbo remove o que lhe masturba e malfaz
e seu negrume conturba o que lhe arma e vela
– ai! –, amamenta a margenta cor,
pisa-lhe a cerviz.
III
Subfalação
somos
andaço de infelicidade na face dos homens
sujeitos a uma vida que não desmerecem
sujeitos a um nu de pluma de irado fugitivo
que ora submorre
– ai! – somos lentas marchas
que alcançam
a grade das enodoadas partidas.
IV
Oh, madrugada!
Cada outono de orgasmo
tem seu próprio escopo,
que nos entorna sobre o vago e segreda:
amanhece, amanhece!
Fotografia (Incertos destinos)
gentilmente cedida pela fotógrafa paraense Ana Mokarzel.
©Benny Franklin
Belém/PA
5 comentários:
Seu poema faz jus ao poeta homenageado.Beijo.
A Adriana disse bem, um grande poema para um grande poeta! Tive o prazer de conviver virtualmente com o Anibal. De prima, Benny. Abraço.
Caro Benny,
Ninguém escreve sem saber ler, mas descobrir essa verdade sem sofisma, é para quem sabe dar leitura! Abçs
Excelente poema, Benny. Isso não é uma homenagem apenas... é uma obra-prima!!!
Subfalação
somos
andaço de infelicidade na face dos homens
sujeitos a uma vida que não desmerecem
sujeitos a um nu de pluma de irado fugitivo
bonito demais, benny!!!!
emociona.
abs
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