OUTRA VEZ, AINDA
Em frente à televisão
o pijama tem listras
( a presença de Deus é sempre incerta )
um fio de cabelo
cai sobre o tapete
e dentro do chinelo
coça o pé
( existir esse risco absoluto )
Sobre a cadeira a mão fechada escreve
uma palavra que nunca vai ler
O olho distraído
percorre o brilho aflito da TV
e a boca que, no canto,
ainda tem esperança de um espanto
manda mais uma vez
e outra vez mais
um recado qualquer para ninguém.
9 comentários:
Um poema sensorial:
o pijama listrado sobre a pele,
o fio de cabelo pendente,
coceira no pé de chinelo,
a escrita de uma mão fechada(?),
a boca esperançosa...
Fico com o trecho:
"O olho distraído
percorre o brilho aflito da TV".
Talvez, porque a TV realmente me soe aflita. Quase não a assisto.
Beijo, Helena!
Helena, que poema! Ofício de escrever, a solidão, o abismo que separa os homens... Muito bom!
Lindo, Mhel.. como sempre!
bjs
Day
Obrigada Renata, Nolly, Day.
grande abraço,
Helena
Muito bem, Helena.
Imagem forte de solidão amparada pela escrita. No máximo o que aontece se ficarmos sós? Escrevemos. Ótima opção;)
Todo poeta, poetisa são sozinhos;)
Oi, Bea,
Na verdade, eu não me imaginei no poema, ele foi feito para um trabalho meu de artes plásticas (uma caixa que representava um velho de pijama em frente à TV). Mas agora vejo que ao falar do outro sempre falamos de nós. Toda solidão alheia é nossa também e escrever é uma das artes mais solitárias. O bom é ter este retorno de outros poetas que a Net propicia.
grande abraço e obrigada,
Helena
Essa é a minha Bandeira! Linda! Machuca e afaga com a delicadeza das palavras. Poetiza, do verbo poetizar.
Beijo,
JC
("existir este risco absoluto.")
É bom, muito bom, correr este risco e ler uma linda poesia, escrita por uma linda mulher que mesmo que fosse minha inimiga...rs...e não esta amiga tão amada, eu seria "obrigada" a reconhecer o seu talento, até quando manda um recado qualquer para ninguém. O que não foi o caso de "Outra vez, ainda" que me atingiu como um torpedo nas vísceras (ando dramática...rs...)
Mhelzinha, te adoro,
Nédier
Poema de um momento aflitivo
e a TV em aflito corre e espera...uma outra vez...
bárbaro seu poema!
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