segunda-feira, 27 de abril de 2009

Porta Jóias

Na minha caixinha de música
A bailarina dança mal-assombrada
Nenhuma jóia guardada
Nem sabonete de motel
Na minha caixinha de música
Alguns alfinetes espetam verdades
Antigas cartas de amor
Sonetos que nem me lembrava mais
Letras de velhas canções
Riscos e rabiscos
Poemas eróticos
Alguns botões.
Na minha caixinha de música
Canhotos de filmes
Cheiro de mofo
Frasco vazio de um patchouli
Na minha caixinha de música
Retratos partidos ao meio
Recortes de modelo
Moldes de boa menina
Receitas de vizinhas
Na minha caixinha de música
Há um tempo que ainda não passou
E mora na saudade.
Outro tempo que ainda não veio.
Se dilata em ansiedade.
Na minha caixinha de música
Dobradiças enferrujadas
Veludo devorado por traças
E qualquer coisa que eu ainda ache graça.
Um antidepressivo vencido.
E a melodia que atravessa o tempo.
Alyne Costa
Salvador,13/02/2009

8 comentários:

Renata de Aragão Lopes disse...

Quanta meiguice...
Muito bonito, Alyne!

Especialmente:
"Alguns alfinetes espetam verdades"

GERARDO GONZÁLEZ CARRERA, DIRECTOR Y JEFE DE CAMALEÓN S.L.P.C. disse...

ESCRIBES XENIAL!

Tião Martins disse...

Caracoles, o nome do post acima não cabe na caixinha!

E olha que a caixinha é grande!

Tenório disse...

Muito belo! Parabéns!

Felipe Costa Marques disse...

triste, tristinho...
mas a nostalgia bate
e renasce a poesia

Belíssimo Poema!
congratulações

VERA PINHEIRO disse...

Bonito demais, e a mim tocou profundamente, pelos guardados. E quem não os teve ou não tem?
Beijos!

Beatriz disse...

Alyne,

manipular a língua, sair da caixinha, friccionar sílabas. a palavra na cena da sintaxe. sutilíssima

Sidnei Olivio disse...

Poema que deve ser "guardado" como jóia de família. Me remeteu a um passado presente na minha memória. Um beijo doce pra vc.