domingo, 19 de abril de 2009

O baile

Se você não responde às línguas que falo
calo a saudade
não saiba na voz doce o desencanto decantado
não saiba a fantasia de princesa
no teu baile malogrado

Calo em mim o rumor de flores eclodindo
e deito a pétala mal- me- quer no vestido amarrotado
já embolado nas gavetas da memória
aos panos rotos de outros bailes
em que os buquês murcharam no meu seio
e as mãos pendidas ao longo do desencontro
não me enlaçaram

Esse sorriso branco bem bordado
é trama nos tecidos tenros da menina
que ficou às margens do salão
com música alucinando sob o decoro
os acordes esgarçando as rendas do regaço
e pés febris tesos num sapato nunca usado
E a quem coube ir embora
ao primeiro tom da aurora
sem ter dançado

Iriene Borges

6 comentários:

Cosmunicando disse...

Irene, que bom te ler por aqui também... sempre lindo!
bjos

Henrique disse...

Uma melancolia crescente ao longo do texto e uma série de imagens belas, porém angustiantes.
Valeu!

Beatriz disse...

É lindo esse espelho. Lindo de doer!
Adorei este poema! Magnífico.
Delicado, contundente, ferino e gentil com as mulheres.

Joe_Brazuca disse...

Seu poema tem cór sépia, cheira a channel nº5, tem espelho "bisotê", e soa a Glen Miller, Count Basie, Nat King Cole...e lágrimas de uma noite sonhada de um verão qualquer...

muito bom, Poetisa !
um beijo

Tenório disse...

Que poema de classe, iluminado!

Felipe Costa Marques disse...

"os acordes esgarçando as rendas do regaço
e pés febris tesos num sapato nunca usado"

O baile da poesia

Felicidades!